- Gênero: Animação
- Direção: Paula Vanina
- Roteiro: Paula Vanina
- Duração: 13 minutos
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O título poderia dizer tudo, ou ser muito mais do que aparenta. Na concretude do que apresenta, Paula Vanina diz em Lagrimar muito mais do que poderia ser dito em tão pouco tempo. É a junção de duas palavras que muito se coadunam, mas que de sua potência exala uma outra forma de entendimento a respeito do oposto do que estamos esperando. Por fim, é a imagem que importa ao cinema, e não a palavra; dito isso, sua função, regular o plano para o espectador, ressignifica uma ironia agridoce. Como tratar a ausência de água diante de uma possibilidade cujo título retrai? Com um traço de aparência simples, um mundo de abre diante de sua protagonista, e o espectador se maravilha com o que é visto.
No ambiente de seca, pode haver algo mais poético do que a semeadura estar ao alcance de uma lágrima? Vanina constrói esse ambiente onde estão unidos o real e a fábula, a animação e o live action, para mostrar que sua história não está inserida em contexto animado. Ela é parte integrante, ainda, da vida de muitas pessoas, no Brasil e no mundo, que ainda sentem sede e fome. A partir de uma protagonista que é, a um só tempo, uma união de muitas formas de vida, Lagrimar atenta, em forma de alerta, para uma expectativa de vida que ainda é incerta, em determinados pontos. Quanto tempo nós vivemos na incompletude? É suave a maneira como tudo isso é inserido, e igualmente o modo como seu filme desabrocha sempre, tornando-se novas coisas.
Da imagem real para a cobertura animada por completo, do preto e branco de fundo para um colorido vivo quase agressivo, do silêncio tímido até uma fusão de sons que criam uma banda sonora cheia de contrastes, Lagrimar é outro filme que nasce de condições modestas de apreciação para se provar cada vez mais sofisticado. Em seu roteiro de amplo significado, essas fusões múltiplas na imagem, no som, na personagem, cria um atrito feliz de acompanhar, com uma obra ousada em sua reflexão formal, e que ainda mais se arrisca no que mostra de maneira contínua.
O trabalho de som, por si só, é um caso à parte. Paralelo às descobertas que os planos trazem ao filme, também perseguimos um caminho de ruídos que se movem pela tela sempre no caminho da renovação. O que escutamos a princípio, não é o mesmo novo som que será trazido no momento seguinte, e isso vai sendo colocado de maneira bastante fluida para um filme de apenas 12 minutos. Não são desdobramentos alicerçados a partir de simplicidade, mas sim um caminho torto de entendimento, que parte nossas certezas, que Vanina nunca contribui para o olhar menos arranhado. Dos primeiros pingos ouvidos até os solos com um pé no rock que o filme nos apresenta, fica claro que a experiência de Lagrimar é para todos os sentidos.
Fartamente alimentados de informação, Vanina não nos deixa sair da sessão de forma passiva. A transformação constante que sofre tudo que vemos também é uma experiência nos é feito o convite, cabe-nos aceitar ou não. Olhando para o resultado final de Lagrimar, a impressão é a de uma figura mutante em perfeito entendimento de si e das coisas. Assim, a obra de Vanina vai além da mensagem (importante e forte, óbvio), para se valer também enquanto material de cinema, e um desses onde a pesquisa de linguagem nunca cessa. Será curioso acompanhar sua carreira, e os novos desafios que sua cineasta já parece interessada em submeter-se.
Um grande momento
O surgimento da minhoca