(Macabro, BRA, 2019)
Nos início dos anos 1990, uma série de crimes chocou o Brasil. Mulheres e crianças foram mortas violentamente e tiveram seus corpos violados após as execuções. Os homicídios aconteceram na zona rural de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, e ficaram conhecidos como o caso dos irmãos necrófilos. Pela impossibilidade de captura pela polícia local, um grupo do BOPE foi enviado para procurar Ibrahim e Henrique de Oliveira. Esta é a história por trás de Macabro.
Muito bem executado, com um roteiro que segue satisfatoriamente o trajeto de filmes policiais, o longa-metragem de Marcos Prado, de Paraísos Artificiais, sabe como usar luz, cores, ângulos e movimentos de câmera para criar uma atmosfera de urgência e destacar o suspense e a ação. A concepção elaborada das cenas dos crimes também surpreende.
Porém, se há muitos pontos positivos nessa construção imagética/sensorial, o filme tem várias questões contextuais incômodas. Primeiro porque tenta, de maneira muito equivocada, tratar o racismo que realmente ocorreu durante a investigação dos crimes, e depois, pelo modo como retrata as mulheres, tanto as mortas quanto as sobreviventes.
A ideia de criar uma aura sobrenatural inclui rituais e uma representação muito enviesada do pai abusador, reforçando estereótipos que os diálogos tentam condenar, tornando-se assim confuso na construção da história. O passado dos meninos e o motivo pelos quais eles cometiam os crimes também não tem qualquer aprofundamento. Assim, Macabro é um filme de ação que tem por trás de si uma boa intenção que acaba fracassando por conceitos e preconceitos que vão além de seu roteiro, escrito por Rita Glória Curvo e Lucas Paraizo.
Outra questão, ainda mais incômoda, está na personalização da investigação, quando se cria um vínculo do sargento com a cidade. Nada rara em filmes do gênero, e por vezes positiva, aqui há uma trama que não casa e chega, mais uma vez, à problemática representação da mulher, com mais um crime grave, mas agora romantizado e meio que perdoado pelos roteiristas. Grave.
Para além disso, fica mesmo a técnica e a destacável construção da ação, com boas cenas de perseguição e luta corporal. A primeira sequência, ainda no Rio de Janeiro está muito próxima daquilo que se viu em Tropa de Elite, mas baseia-se no erro, o que é bom, e há todo um acerto na criação da atmosfera, no relacionamento de Teo com o tio, nas revelações no cemitério e na tomada de depoimentos. A mescla de elementos dá liga à história e faz um bom retrato do que é o lugar onde tudo se desenrola.
Macabro é um bom filme de ação, sem dúvida. Tem muitos pontos positivos, principalmente em um gênero que carecem da sofisticação aqui apresentada. Porém, está apoiado em equívocos que a atualidade não consegue mais deixar passar.
Um Grande Momento
O incêndio e o confronto no milharal.
Macabro é o primeiro filme brasileiro a estrear no circuito dos cinemas drive-in. Saiba mais.