(The Lodge, GBR, EUA, CAN, 2019)
- Gênero: Terror
- Direção: Severin Fiala, Veronika Franz
- Roteiro: Sergio Casci, Veronika Franz, Severin Fiala
- Elenco: Riley Keough, Jaeden Martell, Lia McHugh, Richard Armitage, Alicia Silverstone, Danny Keough, Lola Reid
- Duração: 108 minutos
Quando a dupla Veronika Franz e Severin Fiala apareceu com seu primeiro longa de ficção, Boa Noite, Mamãe, chamou a atenção por onde passou. Ainda que afoitos e vacilantes na construção da trama, tinham um trato especial de imagem e construção de tensão que trazia novidade ao cinema de gênero. Agora é possível ver na HBO GO seu filme mais recente, O Chalé, que mais uma vez trata de luto e desajuste familiar, e demonstra o amadurecimento de muitos pontos e a manutenção da habilidade para criar uma atmosfera de ansiedade e imprecisão.
Forçando estéticas contrastantes, que enchem de luz momentos ultradepressivos, abrem o plano para situações de opressão ou colocam cor onde os personagens não conseguem deixar o luto, o filme potencializa todo o drama de sua história. Os autores pesam no não dito, na contenção e nessa contradição pontual para causar o incômodo. Eles se sentem confortáveis em trabalhar no limite da angústia e isso é algo positivo quando se trata de algo que precisa perturbar.
Mantida a habilidade, em O Chalé há também uma linearidade. Franz e Fiala não se atropelam na própria ansiedade e jogam com a dúvida, sem mostrar mais do que deveriam. O filme encontra um ritmo e consegue segui-lo por boa parte de sua duração, dando tempo a seus personagens e, em especial, a Grace, vivida por Riley Keough, de Ao Cair da Noite e O Diabo de Cada Dia.
Porém, se segue sem antecipações na construção da alegoria cai em uma vala tão problemática quanto: a falta de crença no espectador. A facilitação é algo sempre nebuloso na criação e de difícil determinação. Aqui o frisson causado pela cartela dos estúdios Hammer, que os fãs do gênero insistem em sentir pelo laço afetivo criado com os divertidos títulos dos anos 1960, pode desviar a atenção, mas não há como negar que é uma constante nos filmes produzidos por eles, vide A Mulher de Preto ou, ainda mais explicitamente, a versão britânica do excepcional Deixa Ela Entrar.
A dupla de diretores não chega a colocar um personagem adicional ou um narrador para explicar ou dar sentido à trama, mas faz uma incursão videográfica para, numa mesma tacada, justificar sentimentos e amarrar o desenrolar da trama, sendo que nada necessitaria de qualquer artifício para isso. Eles sabem disso, já fizeram antes. O mesmo se dá em situações forçadas, mas que acabam sendo sufocadas pelo clima que se estabelece à medida que a loucura vai tomando o lugar.
Existe habilidade no desenvolvimento dos sentimentos. Em tom de madeira, num escuro claustrofóbico que contrasta com o branco sem limites da neve, O Chalé mergulha na crueldade para abordar de maneira opressiva e pesada a mesma temática de tantos outros filmes infantojuvenis do gênero: o relacionamento com madrastas. Além da questão familiar e até por causa dela, escolhe um caminho para questionar a influência da religião e a expiação como um de seus pilares.
Com questões complexas e material rico para ser explorado, O Chalé tem lá o seu carisma e consegue envolver, pena que em seu intuito de internacionalização, acabe encontrando aquela espécie de pasteurização que distancia, mas não o invalida. Alcança o seu objetivo enquanto cinema de gênero e confirma a boa percepção e habilidade de Franz e Fiala, mas ainda falta um algo a mais para chegar lá.
Um grande momento
Acordando