O 9º Olhar de Cinema Festival Internacional de Cinema acaba de anunciar sua primeira leva de atrações para a edição desse ano, que já nasce histórica, ainda que, a princípio, por motivos alheios à vontade de realizadores, público e jornalistas. A Covid-19 pegou o circuito mundial de festivais pelo pé, e o Olhar é mais um dos muitos eventos a abrir sua realização para o formato on-line, excepcionalmente este ano; se não era a edição pretendida, ao menos há a chance de vários olhares terem um alcance inédito pelo Brasil inteiro, ainda que virtualmente.
Os diretores do festival, Antonio Junior e Eugenia Castello, falaram sobre as possibilidades que o formato excepcional trará ao evento, e o que esperam do Olhar de maneira ampla, tendo a consciência de que não estar na sala de cinema gera uma relação diferente, mas que o festival estará muito bem representado mesmo no ambiente virtual: “o Olhar mudou pouco, quase todas as mostras se apresentam intactas inclusive na quantidade de filmes; alguns ajustes foram necessários, mas mostras paralelas como as oficinas, seminários e o Curitiba-Lab estão confirmados”, disse Antônio.
Eugenia pondera os dois lados do Olhar 2020: “é um festival como nunca vimos antes, porém com o mesmo cuidado curatorial, com o público e com os convidados; se por um lado não teremos os encontros presenciais, as salas lotadas e o carinho explícito, por outro o Olhar terá a oportunidade de passear e ser conhecido ainda mais, agora no Brasil inteiro”.
Entre os títulos anunciados hoje estão os da mostra Olhares Brasil, com a seleção do melhor que o país produziu esse ano e que pintou em grandes telas do mundo. Do Festival de Rotterdam vem Um Animal Amarelo, de Felipe Bragança, co-produção Brasil/Portugal/Moçambique; da Mostra Tiradentes em janeiro, chega o vencedor do júri na Aurora Cantos dos Ossos, de Jorge Polo e Petrus de Bairros, além de Cabeça de Nêgo‘, de Déo Cardoso, uma narrativa baseada nos ideais dos Panteras Negras.
Exibido no último Festival de Brasilia, o documentário Fakir de Helena Ignez, foi sensação nos inúmeros festivais por onde passou, seja o Panorama Coisa de Cinema ou o Forum Doc BH. Além de Helena, outro veterano apresenta seu novo trabalho – Sertânia, de Geraldo Sarno, é um dos grandes filmes que o Olhares Brasil trará esse ano.
A ancestralidade estará presente em longas e curtas esse ano, na primeira seara representado por Yãmĩyhex: As Mulheres-Espírito, um resgate da mitologia e tradição indígenas, também vista no curta animado Mãtânãg, A Encantada, além de A Morte Branca do Feiticeiro Negro e O Verbo se Fez Carne, mergulhando nas memórias e fabulações sobre a ancestralidade negra.
Entre os curtas também teremos os momentos distópicos que o cinema brasileiro é tão afeito, em títulos como Inabitável, de Enock Carvalho e Matheus Farias, e Os Últimos Românticos do Mundo – pontes entre o nosso mundo e um futuro que muito se assemelha à respostas do presente.
Mirada Paranaense
A Mirada Paranaense também foi anunciada hoje, com apenas um título em longa, o documentário A Alma do Gesto de Eduardo Baggio e Juslaine Abreu-Nogueira, e o grande destaque da seção é A Mulher que Sou, da premiada Nathalia Tereza, que passou pelo último festival de Gramado. A Mirada vai apresentar outros documentários e ficções que discutem temas diversos como a negritude, o feminismo, a memória e até mesmo o futebol.
O 9º Olhar de Cinema acontece entre os próximos 7 e 15 de outubro, em edição online. A maior parte da seleção será anunciada, na semana que vem.
Até o dia 2 de setembro, estão abertas as inscrições para o Passaporte Acesso Livre. Elas podem ser feitas em formulário no site do Olhar e as vagas são limitadas. Os cadastros serão submetidos a um processo de seleção que observará a diversidade, tendo como foco a participação de pessoas de diferentes regiões e realidades sociais.
Confira a lista completa dos filmes anunciados hoje:
OLHARES BRASIL
LONGAS-METRAGENS
Um Animal Amarelo (Brasil/Portugal/Moçambique, 2020, 115 min.), de Felipe Bragança
Cabeça de Nêgo (Brasil, 2020, 86 min.), de Déo Cardoso
Canto dos Ossos (Brasil, 2020, 89 min.), de Jorge Paulo e Petrus de Bairros
Cavalo (Brasil, 2020, 85 min.), de Raphael Barbosa e Werner Salles Bagetti
Fakir (Brasil, 2019, 92 min.), de Helena Ignez
Sertânia (Brasil, 2019, 97 min.), de Geraldo Sarno
Yãmĩyhex: as mulheres-espírito (Brasil, 2020, 76 min.), da Associação Filmes de Quintal
CURTAS-METRAGENS
Enraizadas (Brasil, 2019, 14 min.), de Juliana Nascimento e Gabriele Roza
Inabitável (Brasil, 2020, 20 min.), de Matheus Farias e Enock Carvalho
Mãtãnãg, a Encantada (Brasil, 2019, 14 min.), de Shawari Maxacali e Charles Bicalho
Minha História É Outra (Brasil, 2019, 22 min.), de Mariana Campos
A Morte Branca do Feiticeiro Negro (Brasil, 2020, 10 min.), de Rodrigo Ribeiro
Os Últimos Românticos do Mundo (Brasil, 2020, 23 min.), de Henrique Arruda
O verbo se fez carne (Brasil, 2019, 6 min.), de Ziel Karapotó
MIRADA PARANAENSE
LONGA-METRAGEM
A Alma do Gesto (Brasil, 2020, 66 min.), de Eduardo Baggio e Juslaine Abreu-Nogueira
CURTAS-METRAGENS
Além de Tudo, Ela (Brasil, 2019, 10 min.), de Pedro Vigeta Lopes, Pâmela Regina Kath, Mickaelle Lima Souza, Lívia Zanuni
Aonde Vão os Pés (Brasil, 2020, 14 min.), de Débora Zanatta
Cancha – Domingo é dia de jogo (Brasil, 2020, 18 min.), de Welyton Crestani
Cor de Pele (Brasil, 2019, 3 min.), de Larissa Barbosa
E no rumo do meu sangue (Brasil, 2019, 4 min.), de Gabriel Borges
Exumação da Arte (Brasil, 2019, 14 min.), de Maurício Ramos Marques
Meia Lua Falciforme (Brasil, 2019, 22 min.), de Dê Kelm e Débora Evellyn Olimpio
A Mulher que Sou (Brasil, 2019, 15 min.), de Nathália Tereza
Napo (Brasil, 2020, 17 min.), de Gustavo Ribeiro
Seremos Ouvidas (Brasil, 2020, 13 min.), de Larissa Nepomuceno
Olhares Brasil e Mirada Paranaense