Documentário
Direção: Marcela Borela, Henrique Borela
Roteiro: Marcela Borela, Henrique Borela
Duração: 75 min.
Nota: 7
Embora a questão indígena e o direito dos índios ainda sejam os mais desprezados no Brasil, a temática é bastante abordada pelo cinema nacional. Os muitos anos dissecando o assunto acabaram criando uma maneira de se contar a história que, bem ou mal, acabou adquirindo vícios e tendências que não a deixam nem original, nem efetiva. O longa-metragem goiano Taego Ãwa surge como uma experiência diferente das muitas que existem até hoje.
Em meio a uma pesquisa na Universidade Federal de Goiás, a então estudante de jornalismo Marcela Borela encontrou cinco fitas de VHS com várias imagens da tribo Ãwa, que hoje, depois de perseguida e reduzida a quase nada pelo “homem branco”, vive em uma comunidade no Araguaia sob constante embate com os latifundiários locais. O material ficou com ela até que seu irmão mais novo, Henrique Borela, formado antropólogo, o descobriu e fez com que ambos iniciassem uma pesquisa sobre aquelas imagens.
Taego Ãwa poderia ser mais um dos muitos filmes étnicos produzidos, mas traz o frescor ao tema por seguir um caminho diferente dos outros. Sua origem na imagem e o modo como os irmãos diretores intercalam passado e presente, com uma pesquisa que reúne matérias de jornais, trechos de documentários, novas filmagens da tribo e os vídeos que o apresentaram a Tutawa, o líder daquela comunidade, resulta em algo novo.
Conhecidamente avessos ao contato com o branco, os Avá-canoeiros foram “capturados” pela Funai nos anos 1970 e, contraditoriamente, foram uma das tribos mais fotografadas e expostas pela mídia. Mesmo com a falta de contato, uma campanha jornalística os vendia como os mais violentos dos indígenas, o que fez com que sua perseguição fosse erroneamente legitimada e com que as brigas pela demarcação das terras na Ilha do Bananal, retardadas até momentos antes da tomada ilegítima de governo de 2016.
O duelo entre a vontade de extermínio de uma tradição e a constante manutenção das origens pela dedicação de Tutawa à tribo, com a transmissão de rituais e crenças às novas gerações, é o ponto mais tocante do longa-metragem, que ainda traz toda a crueldade e desrespeito com que aquela comunidade foi tratada.
Embora haja uma certa falta de noção com o tempo das sequências, algumas mais longas e outras mais curtas do que o necessário, o que, consequentemente, compromete o ritmo do filme, os irmãos Borela conseguem atrair a atenção do público e fazem com que haja uma empatia com a história contada.
E é interessante ver como o velho modo de se fazer cinema étnico é deixado de lado para construir uma nova abordagem sobre o tema, com estrutura própria e uma vontade não de contar a história de uma tribo, mas de fazer com que algumas imagens se transformem em outras e, assim, se tenha um novo objeto de denúncia.
Um Grande Momento:
“Eu até crio um”.
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