Crítica | FestivalMostra SP

Hotel às Margens do Rio

(Hotel by the River, KOR, 2018)
Drama
Direção: Hong Sang-soo
Elenco: Ki Joo-Bong, Kim Min-hee, Kwon Hae-hyo, Song Seon-mi, Yoo Joon-Sang
Roteiro: Hong Sang-soo
Duração: 96 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Em dois de seus últimos filmes, o diretor Hong Sang-soo estabelece uma conversa intergêneros. Em ambientes diferentes e histórias próprias, uma mulher e um homem tentam superar o fim de casos amorosos que tiveram. Ela em Na Praia à Noite Sozinha, ele em O Dia Depois. Além de retratos competentes dos momentos de perda, é interessante notar nos dois filmes o modo com que os gêneros, mesmo buscando e sentindo as mesmas coisas, acessam a dor e lidam com ela de maneiras diversas.

É mais ou menos isso que se encontra em Hotel às Margens do Rio. Sang-soo une no mesmo local duas histórias diferentes, embora perpasse pelos mesmos temas que tanto gosta de abordar. Naquele hotel, uma mulher sofre com o fim de um relacionamento e passa o tempo com sua melhor amiga entre memórias e vazio. No mesmo local, um poeta, acreditando que está no fim de sua vida, chama os filhos já adultos para uma conversa.

Apoie o Cenas

São duas histórias que se encontram em alguns pontos relatados, mas que têm motivações e constituições bem diferentes. Não são as relações e frustrações amorosas que guiam o filme, nem o modo como cada um dos núcleos lida com o seu passado, embora tudo isso esteja ali. O que chama a atenção é a comunicabilidade, o modo como cada um dos núcleos, um feminino e um masculino, consegue se abrir e se conectar.

Enquanto o suporte, a proximidade e a presença são fundamentais para as duas amigas, o não-dito, o desconhecimento e o desconforto estabelecem a relação entre pai e filhos. Embora se chegue sempre ao mesmo lugar, o acolher e consolar de um lado confronta as tentativas de estabelecer uma relação tardia, cheia de espaços não preenchidos.

O roteiro, como outros de Sang-soo, preocupa-se bastante com a palavra, em diálogos inspirados e cheios de significados e identificações. Agrada o modo do diretor trabalhar com a percepção externa da capacidade de comunicação, fazendo com que o público se reconheça em momentos onde a diferença é percebida pelos próprios personagens.

Fotografado em preto-e-branco, poucas locações e cenas externas, a assinatura de Sang-soo pode ser facilmente reconhecida em Hotel às Margens do Rio, seja em estética ou em narrativa. Mas um filme simples, que deixa a sua marca ao tratar de questões tão humanas.

Um Grande Momento:
Presentes.

Links

IMDb

[42ª Mostra de São Paulo]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
Botão Voltar ao topo