- Gênero: Drama
- Direção: Johnny Massaro
- Roteiro: Felipe Haiut
- Elenco: Felipe Haiut, Julia Stockler, Saulo Arcoverde, Catharina Caiado
- Duração: 60 minutos
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Originalmente uma peça teatral, A Cozinha chega aos cinemas primeiramente através da competição Novos Rumos, do Festival do Rio. Esse é o primeiro acesso do público ao resultado da transposição, que pelo título, imagina-se em que cômodo da casa vá se estabelecer mais do que o conflito da produção. Na verdade, é só sobre a cozinha e esses dois casais, conectando-se ao passado dos homens e ao futuro das mulheres. Esse é o dado positivo da produção, não apenas olhar para uma recordação com debruçamento e questões, mas principalmente observar a delícia que é sonhar com o amanhã. São dois pólos que o filme não tenta aproximar, quase criando uma perpetuação entre seus dois núcleos.
Trata-se da estreia na direção de Johnny Massaro, que vive um ano excepcional como intérprete, ao protagonizar Os Primeiros Soldados, O Pastor e o Guerrilheiro e Transe, os dois últimos na seleção do Festival do Rio também. Envolvido também com a realização teatral, o ator não conseguiu estar em cena por conta de projetos televisivos, mas eis que ele surge aqui pela primeira vez atrás das câmeras. O resultado da empreitada poderia se imaginar simples – um único cômodo, uma trama do qual ele tinha muita familiaridade, um elenco enxuto e igualmente próximo. Infelizmente A Cozinha é um filme com mais erros que acertos, e que nunca consegue sobreviver a alcunha de ‘teatro filmado’. O que Massaro tenta fazer para resolver essa situação está bem longe de se assemelhar com um acerto.
Contudo, antes da realização não alcançar o que deseja, é preciso deixar claro que o texto de A Cozinha já não era muito bem desenvolvido, ao menos para o cinema. Escrito por Felipe Haiut, que também é o protagonista, o filme tenta brincar com uma certa reverência excessiva própria do artificialismo, mas o que fica mais evidente é que tal saída era pra tentar tirar proveito de uma situação de onde não há saída. Isso porque o texto é bem embolotado, pouco crível, de tratamento pouco natural. O desenho dos personagens até soa detalhado, com nuances interessantes, que explodem quando o filme passa a criar um fluxo de clímax contínuos. Mas não há desenvolvimento prévio que resista a diálogos que até poderiam soar bregas e artificiais, o que incomoda é o fato do filme se empenhar em parecer o oposto.
A culpa não é dos atores, que tentam fazer o que podem pelo projeto. Julia Stockler (de A Vida Invisível), por exemplo, concebe uma Letícia muito interessante, uma mulher que não deseja ir embora, ao mesmo tempo em que desistiu de servir. Miguel, vivido por Haiut, é uma alma penada em busca de respostas que não terá com facilidade, ou sem dor, e o ator é dedicado na tentativa de mostrar o peso descomunal que esse tipo carrega. Saulo Arcoverde talvez tenha o personagem mais interno, que não quer olhar para o passado, porque assim deveria ter que decidir seu presente, coisa que ele quer que continue emperrada. Catharina Caiado é quem tem o caminho mais dificultado por uma personagem cuja empatia não vem fácil. Assim sendo, o elenco de A Cozinha é um quarteto que sai isento dos erros.
Já o que compete a Massaro, a expressão mais suave para contextualizar seria a de que ele não conseguiu transportar para o resultado o que estava na sua cabeça, em ideias. Elas obviamente existem, o filme não pára de reafirmar suas tentativas de nos fazer conectar com tais imagens. Mas é de se perguntar o que se pretendia o diretor ao utilizar ultra closes em uma estrutural que nasceu teatral, ou seja, pra mim é um interesse comum me envolver com as quatro reações ao mesmo tempo. Mesmo quando o filme de divide em dois subgrupos, continuamos a ver um filme que investe em pele e objetos, em poros e pelos, que no que seus personagens/atores tem a oferecer, em matéria de corporalidade, de entrega e de envolvimento, do qual o filme constantemente se afasta.
Assim sendo, o interesse por A Cozinha tende a se esvaziar, já que terminamos a produção tão cheio de enigmas a resolver quanto quando entramos. O trabalho de direção prefere enfrentar seus pontos específicos de imagem do que capturar a verdade que salta dos olhos dos atores, fugindo de suas entregas. Já o roteiro, falha em não conseguir criar um ambiente minimamente fácil de acreditar, com a violência final soando gratuita. O projeto, ao fim e ao cabo, tinha uma saudável discussão sobre passados enterrados e futuros incrementados, mas no meio de tantas ausências, o que poderia ter sido e não foi, acaba não sendo exatamente a melhor saída para um projeto.
Um grande momento
Abrindo o vinho