Crítica | Outras metragens

Un trou dans la poitrine

Aprendendo a perder

(Un trou dans la poitrine, CAN, 2023)
Nota  
  • Gênero: Animação
  • Direção: Alexandra Myotte, Jean-Sébastien Hamel
  • Roteiro: Alexandra Myotte, Jean-Sébastien Hamel
  • Elenco: A calma do final de Un trou dans la poitrine, tão diferente de seu frenético começo, é a aceitação. Dolorosa, triste, mas fundamental
  • Duração: 11 minutos

Com uma animação que vai se transformando de maneira frenética, em Un trou dans la poitrine (A Crab in the Pool) acompanhamos a jornada dolorosa de dois irmãos sem saber muito bem onde ela chegará. São gaivotas que brigam por comida, o assédio de um menino adolescente e um livro de colorir de mitologia grega que transforma a realidade em seres clássicos num mergulho sem pausa. O passeio na cidade leva até uma piscina coletiva onde o passado e presente se encontram. Lá, as cores ainda não existem e a imaginação perde sua potência. Lá o caminho se encerra.

Com traços simples e cores vibrantes, o diretora Alexandra Myotte e o diretor Jean-Sébastien Hamel conseguem falar da infância e da adolescência e de uma dor que essa fase não está preparada para enfrentar, de uma perda que é difícil de compreender. O roteiro em forma de espiral consegue captar a confusão de sentimentos na pele da jovem protagonista que transfere para seu corpo aquilo que ela acabar de presenciar fora dele, numa relação de incompreensão e raiva.

Os sentimentos dela não são iguais aos do pequeno irmão que se esconde na imaginação. Em sua fuga, busca o que restou daquilo que não mais existe, se agarrando naquele que foi o último presente, a última lembrança. Buscando memórias e vivendo lembranças fantásticas, mas que se perdem em algum momento. O modo como a animação transforma a realidade em devaneio é fluido, assim como transita em universos da dor, causando no espectador sentimentos de angústia e desejo de acolhimento.

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Quando a espiral chega a seu final, as linhas se encontram; quando as outras pessoas desaparecem e os momentos se casam em um só instante, o respiro chega doloroso. O conforto momentâneo é seguido pelo vazio, mas também pela comunhão, por uma dor compartilhada. A calma do final de Un trou dans la poitrine, tão diferente de seu frenético começo, é a aceitação. Dolorosa, triste, mas fundamental para o início de duas vidas que precisam seguir em frente.

Um grande momento
O abraço

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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