Crítica | Festival

Americanish

(Americanish, EUA, , 2021)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Iman K. Zawahry
  • Roteiro: Aizzah Fatima, Iman K. Zawahry
  • Elenco: Aizzah Fatima, Salena Qureshi, Shenaz Treasury, David Rasche, George Wendt, Ajay Naidu, Anuja Joshi, Lillete Dubey, Godfrey, Meghan Rafferty, Kapil Talwalkar, Lucie Pohl
  • Duração: 91 minutos

– O que você veio fazer nos Estados Unidos?
– Eu vim achar um ótimo paquistanês para casar!
– Garota, não tem homem bom nem daqui… imagina um ótimo paquistanês.

Essa conversa com a oficial da alfândega diz muito sobre o que é Americanish, o divertido e leve filme de Iman K. Zawahry. Com levada de comédia romântica, sem o menor problema em assumir a preferência pelo gênero, o longa fala sobre essa fictícia “América dos sonhos” cor-de-rosa, que muitas vezes vimos representada em versões adaptadas à sua época, aos costumes e às culturas das realidades representadas. No caso, por uma família paquistanesa formada por quatro mulheres bem diferentes entre si. 

Ainda que não se afaste da tradição, principalmente no que diz respeito a casamento, com relações arranjadas, beijos que não podem acontecer e ligações entre parentes, Americanish se moderniza na estrutura familiar. Sua matriarca que tem uma história de vida e uma outra abordagem na criação de suas filhas, com uma significativa diferença na atenção às rígidas regras. Estas ainda estão ali ainda, muita coisa é mantida, inclusive no que diz respeito ao desespero matrimonial, mas a própria casa Khan é uma perfeita representação da miscelânea cultural, desse modo americanizado, que a diretora quer retratar.

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Americanish
Cortesia Bentonville Film Festival

Se Zawahry une tudo na casa da família, quando sai dela, deixa mais evidente seu caminho tripartido em anseios distintos. Ela busca, inclusive, atualizar representações de um feminismo que precisa se mostrar mais diverso e pare, por exemplo, de rotular como machistas mulheres que buscam padrões associados à relação heteronormativa. Ao trilhar os passos das irmãs Sam e Maryam, e da prima Ameera, o filme busca algum equilíbrio e a compreensão. Enquanto as primeiras têm interesses profissionais acima dos românticos, a última é a protagonista do diálogo que abre o texto e só quer saber de se casar.

Há um outro ponto curioso em Americanish. Em uma realidade de casamentos arranjados, onde a escolha não é dos noivos, a importância do estar envolvido, da paixão para que o relacionamento prossiga, é algo que representa uma ruptura. Da mesma maneira, o não pensar nisso de Sam ou a mãe que fala para a filha parar de usar o hijab porque assim não vai chamar a atenção de ninguém demonstram uma outra maneira de se relacionar a tradição. Assim, o filme vai falando de níveis diferentes de americanização, e Ameera, aquela da história mais tradicional cinematograficamente falando, é a que mostra ao espectador o que é ser “americanished”.

Americanish
Cortesia Bentonville Film Festival

Tudo é fofinho e divertido, mas falta aquele aprofundamento e essa parece ter sido a intenção desde o começo. Talvez a história que vá mais longe e renda uma discussão um pouco mais profunda seja a de Sam. Ela se dedica às mídias sociais de um reacionário político republicano que não para de falar besteiras e repetir frases xenofóbicas e racistas. Porém, mesmo que haja muito material e algumas tentativas de incursão no tema, isso nunca acontece de maneira realmente dedicada.

Zawahry traz questões interessantes, que falam sobre pessoas e uma cultura diversa nesse universo diferente, e em um ambiente onde outras tradições coexistem. Fala do estar imerso nesse caldo de influências e no influenciar e transformar também. E faz isso de maneira leve, com um ritmo agradável e se aproveitando do charme que os filmes do gênero sempre têm. Com um elenco que funciona bem – destaque para o trio de protagonistas Aizzah Fatima (Asockalypse!), Salena Qureshi (Todas as Pequenas Coisas) e Shenaz Treasury (Doentes de Amor) –, Americanish diverte na medida.

Um grande momento
A prova do vestido

[2021 Bentonville Film Festival]

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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