(Días de invierno, MEX, 2020)
Em sua estreia na direção de longas-metragens, Jaiziel Hernández foi buscar no indie americano a forma para seu filme. Em Días de invierno, acompanhamos o cotidiano de mãe e filho, Lília e Néstor, ambos em conflito com o espaço onde vivem e a, ao mesmo tempo, presos um ao outro. O diretor consegue explorar essa relação, fazendo um retrato silencioso dessa relação que depende de responsabilidades e presenças que não são desejadas por nenhuma das partes, mas isso mantém-se em silêncio.
A questão espacial é muito destacada e conta com uma boa direção de fotografia de Juan Pablo Ramírez (Chicuarotes), num trabalho apurado de mostrar o tamanho de cada um daqueles personagens em relação ao ambiente, ressaltando o estranhamento e o deslocamento, mas falta uma constância ao filme. Em cortes nada sutis, os planos abertos assumem outras aproximações que não fazem tanto sentido.
O filme ainda faz outros usos da imagem na constituição da narrativa, como, por exemplo, quando filma Lety em câmera lenta, demonstrando que ela altera o tempo das decisões a serem tomadas. Mas há um estranhamento na desprotagonização, quando personagens satélites assumem trechos da narrativa, e isso pode ser dito tanto de Lety como do Sr. Feldman. O longa se prolonga e acaba se perdendo da trama principal, ainda que o retorno não seja tão difícil.
Como todo indie, há uma certa atenção à canções pop folks, que surgem aleatoriamente, ora como clipe, ora como pontuação. Días de invierno também investe em uma trilha sonora original, mais dramática. Embora busque uma tradição, falta um pouco mais de tino e experiência para que tudo se acomode bem em seus lugares. O mesmo pode ser dito da própria composição do roteiro, de Hernández e Oriana Jimenez.
O longa mexicano tem momentos interessantes, mas eles vêm acompanhados de longas pausas ou de cenas que reiteram aquilo que já dito e conhecido. A repetição traz uma cansaço à trama e compromete o ritmo. Porém, embora tenha essa lentidão, não incomoda acompanhar a história daquela relação que existe cheia de cobranças não feitas e palavras não ditas.
Hernández está confortável naquele gênero de filme e tenta coisas diferentes, o que é ótimo para uma estreia, mesmo que se perca em várias coisas iguais demais (como o flashback final, o problema de lógica como fio). Ao fim, Días de invierno funciona em sua proposta. Não impressiona e nem é nada que vá mudar a vida de alguém, mas fala de um jeito carinhoso e, de certo modo, nostálgico de uma relação que quase todos nós conhecemos.
Um grande momento
Pisca-alerta