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Guerra Fria

(Zimna wojna, POL/FRA/GBR, 2018)
Drama
Direção: Pawel Pawlikowski
Elenco: Joanna Kulig, Tomasz Kot, Borys Szyc, Agata Kulesza, Cédric Kahn, Jeanne Balibar
Roteiro: Pawel Pawlikowski, Janusz Glowacki
Duração: 88 min.
Nota: 8 ★★★★★★★★☆☆

William Shakespeare, o pai do romance trágico e segundo quem é pobre um amor que se pode medir, se agradaria do encontro de Zula e Wictor, casal central do novo longa de Pawel Pawlikowski (Ida), Guerra Fria. Há muito do bardo na construção deste amor, que começa ao acaso, cresce desde os primeiros momentos juntos e está sempre enfrentando impossibilidades para se concretizar.

Ancorado em bases conhecidas de tramas narrativas com o mesmo tema, o diretor polonês vai buscar na música um caminho diferente e inventivo para construir a sua história, iniciando pela tradição popular, com o folk, e passando por recriações modernas, com o jazz, entre outros gêneros musicais.

A habilidade de Pawlikowski na construção de quadros é conhecida. Em preto e branco, ele traduz a sua paixão pela música em imagens. O modo como os planos são construídos equivalem à composição musical. Os elementos, humanos ou não, surgem em cena e, assim como uma nota em uma melodia, ocupam o ambiente fazendo com que outros elementos apareçam para complementá-los. O diretor aposta em movimentos de câmera que explorem os ambientes e explicitem essa ocupação visual-musical.

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Por trás de todo o deslumbre imagético, Guerra Fria traz momentos marcantes da história após o término da Segunda Guerra e o período histórico do título, focando no papel e uso da arte, no caso a música, no período. Se há um resgate de tradições em busca da autoestima perdida com a guerra nas canções folclóricas do início, há também seu uso político e propagandista na legitimação de uma ideologia e, mais, a influência premente dos Estados Unidos como uma espécie de colonizador cultural mundial.

A condução da narrativa e o momento retratado possibilitam a passagem por outras subtramas, normalmente presentes em filmes sobre esta época, que favorecem o ritmo e o interesse no que se conta. Mas o que há de mais forte em Guerra Fria está na força, beleza e inovação com que o longa volta-se ao amor trágico como algo tão plausível naquele ambiente de divergências extremas. Voltando ao clássico e ao mais conhecido, trata de uma mesma impossibilidade de maneira tão inesperada quanto atraente.

Um Grande Momento:
Cantando no café.

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[42ª Mostra de São Paulo]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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