- Gênero: Drama
- Direção: Fran Kranz
- Roteiro: Fran Kranz
- Elenco: Martha Plimpton, Jason Isaacs, Reed Birney, Ann Dowd, Breeda Wool, Kagen Albright, Michelle N. Carter
- Duração: 110 minutos
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Qualquer coisa que lembre uma encenação mais teatral no cinema é alvo de má-vontade por parte da crítica e da cinefilia. Nada que se compreenda muito bem, uma vez que as duas artes – e muitas outras coexistem desde sempre e podem funcionar juntas, dependendo de como isso será construído. Estão aí os excelentes Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock; Deus da Carnificina, de Roman Polanski, e A Festa, de Sally Potter para provar. Mass é um dos que podem entrar tranquilamente nessa lista.
O filme de Fran Kranz se encaixa perfeitamente em um Huis Clos, estilo que ganhou o nome por causa da peça existencialista “Entre Quatro Paredes” de Jean-Paul Sartre onde pessoas confinadas em um único ambiente dão vazão a seus instintos. E não há muito como não associar à teatralização, no caso. O diretor sabe disso e tenta burlar a disposição cênica, insere movimentos e tomadas externas, cria personagens e elementos que nem sempre surtem o efeito desejado, mas na verdade isso acaba não importando.
A força de Mass está na palavra, na história que conta e na potência daquilo que narra. Com atuações assombrosas de Martha Plimpton, Jason Isaacs, Ann Dowd e Reed Birney, o longa traz a dor de duas famílias que perderam o seu caminho e buscam de alguma forma seguir em frente. São diálogos repletos de constrangimento, inconformidade, negação, desilusão, ressentimento e raiva. Um emaranhado de sentimentos que vai num crescendo que simplesmente não tem meio de ser trabalhado.
O roteiro, do próprio diretor, vai estabelecendo a história de maneira lenta e consegue construir bem os seus personagens. É curioso como a dinâmica se estabelece entre eles e a conexão é imediata, mas, pelo menos com parte da audiência, com três dos envolvidos, que esbanjam emoção e têm as cenas mais marcantes. O quarto elemento, em sua contenção, está sempre pontuando o afastamento, o local frio, e isso chega, inclusive, como uma míngua na atuação, mas que é, na verdade, fundamental para o funcionamento do todo e condizente com o contexto.
A sala asséptica, a disposição das cadeiras na mesa e o vazio diante de quem fala facilitam a movimentação da câmera de Ryan Jackson-Healy, num trabalho completamente diferente dos seus videoclipes e filmes anteriores, que faz questão de exaltar pequenos detalhes, como olhares e posturas de cada um dos personagens. A sensação de sufocamento, transferindo o íntimo dos personagens para o espectador, é bem realizada, ainda que Kranz se atrapalhe aqui e ali com o timing e, para além dos longos debates, Yang Hua-Hu se perca na montagem.
Devastador, Mass é um filme simples, sem grandes elaborações e que não precisa de nada além daquilo que faz para ficar por muito tempo na cabeça de quem o assiste. É teatral, sim, mas funciona perfeitamente bem assim e talvez seja justamente por ter esse formato que consiga alcançar toda a relevância que o tema necessita. Em um país como os Estados Unidos, que estimula o armamento civil, o revanchismo e a violência, onde o extremismo é visto sem preconceitos, é fundamental que temas como o do filme sejam tratados e sejam tratados de forma a incomodar, perturbar e atordoar.
No fim das contas, o que eu sei se resume a isso: o mais trágico de tudo é que a pessoa mais vigilante e responsável de todas pode não conseguir ajudar, mas, pelo amor, nós nunca devemos parar de tentar compreender o incompreensível.
Sue Klebold
Um grande momento
Gail fala.