Horror
Direção: Jordan Peele
Elenco: Lupita Nyong’o, Winston Duke, Elisabeth Moss, Tim Heidecker, Shahadi Wright Joseph, Evan Alex, Yahya Abdul-Mateen II, Anna Diop, Cali Sheldon, Noelle Sheldon, Madison Curry, Ashley Mckoy
Roteiro: Jordan Peele
Duração: 118 min.
Nota: 8
Depois de chamar a atenção de todos com Corra!, Jordan Peele está de volta. Em seu novo filme, Nós, comprova toda a sua habilidade para manipular a tensão. Com uma história que nasce de um dos medos mais comuns, o da imagem duplicada, ele consegue fazer com que o público prenda a respiração e grude os olhos na tela. Faz com que o desconhecido, de difícil explicação, crie a ansiedade e o medo que dão tom à sua noite de perseguição.
Um breve prólogo e alguns flashbacks mostram o caminho trilhado para chegar até aquele momento. O evento na infância de Adelaide Wilson – brilhantemente vivida por Lupita Nyong’o em positivo e negativo – é a causa da ruptura, que espera para se tornar efetiva e escancarar aquilo que nem sempre se quer ver.
Peele fala das dualidades pessoais ao imprimi-las em versões diversas de um mesmo indivíduo. O bem e o mal encontram-se divididos, mas não podem ser separados e é isso que está, principalmente, na protagonista. O tema, que já tem o seu poder no elemento humano, ganha novas conotações quando tratado no atual momento político, em um mundo polarizado onde ódio e inverdades constroem narrativas e quebram vínculos, afastando iguais.
Neste mundo de versões, há os que vivem essas verdades não comprovadas, os silenciados, e aqueles que dominam o mundo com suas realidades banais, mas permitidas. O medo de interferência daquela outra realidade é desconhecido pela maioria, mas domina a vida de quem sabe de sua existência. Aos relegados, é chegada a hora de se mostrar e a vingança vem pela destruição, pela aniquilação.
Em sua tensa construção, Peele alcança, sem nenhuma obviedade, lugares interessantes e explora várias questões sociais relevantes, como o confinamento e a separação, a alternância de poder, o silenciamento e a união. Ao construir um novo mundo, ou melhor submundo, expõe a igualdade negada por tantas realidades atuais, a divergência nas oportunidades e possibilidades. As vidas desenvolvem-se da maneira como se quer que desenvolvam, com uma imposição extrema que impede a interferência.
Para tratar tudo isso, em sua metáfora de reflexos, o diretor usa e abusa de sua noção na criação do gênero. Aqui, com ainda mais habilidade do que no filme anterior. Porém, se tecnicamente Nós é superior, há problemas no acesso à temática que fazem com que Corra! seja mais prontamente aceito. Não só pela compreensão imediata, mas por uma certa obviedade na conclusão de Nós ou pela dubiedade da própria metáfora em si.
Mas é no todo, e em tudo que fica após os créditos, que Peele encontra o diferencial em seu filme. A conexão que surge ao ver um grupo silenciado tomar as ruas silenciando – aqui de maneira definitiva – aqueles que estavam expostos. Na descoberta de todo o mal concretizado nas ações daqueles que são em imagem pessoas conhecidas e íntimas por toda a vida.
Quantos não se reconhecem hoje – nos EUA de Trump ou no Brasil de Bolsonaro – naquele olhar de Jason para a mãe quando ele entende que até os mais próximos têm dentro de si coisas tão desprezíveis, coisas que fazem o mundo ser um lugar pior. E não resta outra opção a não ser colocar a máscara e se esconder. Está lá em Jeremias 11:11 que Deus trará uma desgraça da qual não se pode escapar. E é isso que está em Nós, pois não há desgraça maior para a humanidade do que nós mesmos.
Um Grande Momento:
Jason encarando a mãe.
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Correção : é Jeremias 11:11