- Gênero: Documentário
- Direção: Clara Leal, Harcan Costa
- Roteiro: Clara Leal, Harcan Costa
- Duração: 15 minutos
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Em São Miguel do Gostoso, numa tela na Praia do Maceió temos a oportunidade de conhecer um pouco da história de, justamente, São Miguel do Gostoso. O curta Papa-Jerimum, filme de abertura da 8ª Mostra de Cinema de Gostoso, fala de Leonardo Godoy, o fundador da primeira pousada do local e também do restaurante Latitude Cinco, o primeiro na região a receber estrelas no Guia 4 Rodas, uma publicação que antigamente era referência para todos os viajantes do Brasil.
Dirigido por Clara Leal e Harcan Costa, do Coletivo Nós do Audiovisual, o filme é um resgate do passado e uma homenagem a uma importante e visionária figura do local. Na tensão entre a modernização, o desenvolvimento e todas positividades do futuro e a inevitável ruptura com os costumes, transformação do ambiente e perda da identidade está Seu Leonardo, uma figura de muita consciência, fala calma e gestos contidos.
A forma é a tradicional dos documentários, que começa pelo mais simples, com fotografias e se utiliza das memórias de alguns que com ele conviveram. O Latitude Cinco é o pontapé inicial de Papa-Jerimum, aquele restaurante, seus pratos, fazem a ambientação, vão apresentando a figura. A história não é toda dita pelos outros, Leonardo fala por si mesmo. É ele quem conta sobre a vontade de criar algo onde não tinha nada, sobre as ações para a transformação da vila em cidade, sobre a instalação das linhas telefônicas. Tudo vem em reminiscências de uma entrevista que Leal e Costa resgataram e passa a costurar o filme a partir de certo ponto.
E o público vai se envolvendo com ele e com a história da cidade e de sua transformação que vem em contraposição, cobrindo a fala de Leonardo: o passado e o presente. Estão ali a vila e a cidade, os moradores e os turistas, o folclore e as torres eólicas. Uma outra entrevista, de outra figura importante da cidade, o jornalista Emanuel Neri, vem reafirmar a inquietação do documentado quando fala das mudanças e da compreensão desses novos caminhos. Mais ainda, cria um jogo de perspectivas que faz o filme ganhar conotações interessantes, sobre intenções e resgates.
Em Papa-Jerimum olhares e vozes do passado e presente que se encontram num movimento de busca e definição para escrever uma história que ainda está acontecendo. Há essa fome em Leal e Costa de saber sua origem, e um encantamento pela figura de Leonardo. Nele reconhecem e se identificam com a ânsia pelo futuro, além de entenderem o receio do futuro.
E é muito interessante estar naquela praia testemunhando tudo isso se concretizando e ser atravessado pela sensação de, ao mesmo tempo ser o “de fora” que está na fala de Leonardo e reconhecer o “de dentro” que ele e Emanuel citam; perceber não só as mudanças com a tela gigante à nossa frente que o festival trouxe com toda uma nova possibilidade profissional e se afasta completamente do que antes havia. Perceber também toda a agitação que está muito além do evento e nada tem a ver com ele, em sons aleatórios e longínquos faróis. Uma experiência que, sem dúvida, vai muito além do filme.
Um grande momento
“Eu tenho até medo de falar”
A crítica viajou à 8ª Mostra de Cinema de Gostoso a convite do festival