(Who's That Man Inside My House, BRA, 2019)
- Gênero: Ficção
- Direção: Lucas Reis
- Roteiro: Lucas Reis
- Elenco: João Pedro Prates e Cristian Verard
- Duração: 10 minutos
Quem é essa criatura que apareceu para assombrar a casa de todos nós sem nenhum aviso? Em Who’s That Man Inside My House, Lucas Reis vai buscar no fantástico, mais especificamente no horror, uma tradução para o sentimento que assola tantos nessas nossas tristes terras. Partindo do micro para o macro, afinal assim são as coisas há eras, estabelece essa relação com a desumanidade e o fascismo que estava ali mas nunca fora notado.
A tensão do filme é estabelecida em fotografias e planos estáticos, todos com a conotação apavorante que, mais do que buscar o horror gráfico, procura a personificação. Tanto na literatura quanto no cinema fantástico, aprendemos que o humor se torna mais efetivo quanto mais real for para aquele que lê/vê a obra. “Ele pode aparecer na sua casa também”, diz o narrador, mas sabemos que ele já está lá.
E está lá defendendo o indefensável, pregando o retrocesso e cultuando mitos vazios. Uma profusão de seres estranhos que surgiram na casa de todos de um dia para o outro, que passaram a vida disfarçados de gente até se sentirem confortáveis para assumir a forma de monstros e assombrarem a vida dos seus e ameaçarem a dos outros.
Do doméstico ao geral, voltando ao micro e ao macro, aquele ser assustador ganha outro corpo, outro poder. Não só assusta, ele mata, queima e destrói. Sente-se confortável porque há todo uma multidão de monstros caseiros com os quais pode contar. No virtual, no local. Seu discurso não foi criado e sua legião não foi manipulada, como se gosta de pensar. A monstruosidade sempre esteve ali naqueles seres, só sentiu-se confortável, legitimada, para ser mostrar.
O antigo encruado, a abertura ao retrocesso. “Minha avó disse que ele fez muito mal a ela no passado”. Who’s That Man Inside My House é identificação e desgosto, medo e vergonha. É a transformação de uma imagem em horror, no jogo semântico mais claro. O filme vai fundo, perturba. Não apenas pela frase que aponta o dedo direto ao espectador (aliás, esta certeira na noção do gênero cinematográfico), mas por fazer reconhecer cada um dos seres sombrios que habitam nossas casas.
Não é preciso rebuscamento para chegar ao ponto. Reis entende o medo, o vivencia e soube como transformar não só o pavor como também a inércia dos nossos tempos em imagem, colando fotografias, investindo alguma coisa em maquiagem, jogando com a luz e acertando nos poucos movimentos. Aliás, se erra, é quando os amplia mais do que o necessário.
Porém, deslizes à parte, estamos todos ali, com medo da figura que apareceu em nossas vidas, parados e sem saber o que fazer. E eles não vão embora, no máximo se transmutam de novo, se escondem, sem nunca deixar de existir com suas saudações de culto e lealdade a qualquer um que legitime a sua desumanidade.
Um grande momento
Nem todo mundo vê.