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Nosso Lar 2: Os Mensageiros

A palavra rebuscada

(Nosso Lar 2: Os Mensageiros , BRA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Drama, Ficção Científica
  • Direção: Wagner de Assis
  • Roteiro: Wagner de Assis
  • Elenco: Edson Celulari, Renato Prieto, Fábio Lago, Felipe de Carolis, Mohamed Harfouch, Fernanda Rodrigues, Julianne Trevisol, Vanessa Gerbeli, Rafael Sieg, Nando Brandão, Aline Prado, Ju Colombo, Othon Bastos
  • Duração: 110 minutos

Já fazem 14 anos do lançamento do primeiro Nosso Lar, filme que chegou para coroar, à época, a grande representatividade que o ‘cinema espírita’ vinha trazendo aos cinemas, com filmes de micro porte fazendo sucesso arrebatador para seus padrões. O primeiro desses fenômenos chegou dois anos antes, Bezerra de Menezes, produção de época e muito barata sobre um médico que atendia aos mais necessitados que acabou sendo uma figura ímpar no espiritismo. Meses antes da estreia do primeiro, Chico Xavier de Daniel Filho contribuiu para 2010 ser um marco dentro do subgênero com a nossa cara. Porquê esperar mais de uma década para que Nosso Lar 2: Os Mensageiros fosse lançado? O gigantismo da produção, os desafios de qualquer produção brasileira, a pandemia… esses são alguns dos fatores. 

Seria muito fácil sentar para escrever sobre esse filme (na verdade, sobre a maioria dos títulos dessa vertente) e ficar apenas remoendo as mesmas críticas pesadas, repetindo argumentos repetitivos e não comunicar outras formas de discussão, ou não se colocar em uma análise de outra ordem. Primeiro porque estamos nesse exato momento assistindo a uma espécie de renascimento de público do cinema brasileiro, com Minha Irmã e Eu chegando aos 2 milhões de público, Mamonas Assassinas querendo alcançar o milhão, os infanto-juvenis Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo e Príncipe Lu e a Lenda do Dragão com mais de 200 mil espectadores, e o próprio Nosso Lar 2: Os Mensageiros com seu próprio milhão, pra começar. Segundo porque, ao contrário da nova geração que irá pensar o cinema, eu ainda acredito na força do roteiro. 

Isso quer dizer que Wagner de Assis é melhor roteirista que diretor, ao adaptar as obras que Chico Xavier transcreveu pelo espírito André Luiz? Não. Quer dizer que ele entende que a sua mensagem é o fortalecedor do que ele quer criar imageticamente, e como alguém cuja inteligência audiovisual anda em dia, sabe que sua narrativa é quem construirá o elo de ligação final com o público, e não apenas o visual, digamos, espalhafatoso. Nosso Lar 2: Os Mensageiros, na verdade, poderia até ser ainda mais enxuto nas pirotecnias visuais, porque o espectador quer mais é se embrenhar no que os ensinamentos da doutrina espírita legam ao fim da sessão. Qualquer análise que repita alguma bobagem do tipo “esse é um filme apenas para os que seguem ou pregam a religião focada”, ainda soa antiquada. Talvez porque a imensa maioria dos filmes o fazem dessa forma mesmo, chegar na reta final com uma base de público esperada, dentro do seu nicho. Qual a novidade de ser assim aqui?

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A verdade é que, quem teve implicância com o clima exótico de suas imagens no primeiro exemplar, não tem muito o que fazer aqui mesmo. É engraçado como a abertura da novela A Viagem de 1994 (alguém lembra?) remete diretamente aos efeitos visuais empregados aqui. E por falar no clássico de Ivani Ribeiro, Nosso Lar 2: Os Mensageiros encontra um Alexandre para chamar de seu – Otávio, vivido por Felipe de Carolis, é um novo espírito interessado em se vingar de quem ele considera responsável por seu sofrimento ao desencarnar. Não é necessariamente um problema aqui, já que essa ramificação remete a uma obra tão merecidamente adorada e uma referência para o audiovisual espírita no país. Na verdade, toda a produção parece muito interessada em criar um tônus melodramático, que seja realçado pelo espiritismo. 

O que promove esse Nosso Lar 2: Os Mensageiros a alguns degraus acima do primeiro em matéria de experimentação narrativa é a forma como os eventos e personagens estão em cena. O roteiro de Assis nem tenta ser linear, criando uma temporalidade cíclica a obra, que além de tudo conversa com a ideia espírita de circularidade temporal. Vemos os três recém desencarnados – Otávio, Isidoro e Fernando – no fim de sua passagem, para depois assistir a prévia de sua encarnação mais recente, para então conhecermos sua história na Terra. As coisas são apresentadas de uma maneira a compreender a temperatura que o filme quer imprimir na tela, e isso é motivador para a produção estar constantemente no clímax, sem deixar a energia cair. 

Não teria como uma obra como essa não ter colheradas fartas de didatismo, mas acho que tenha a ver com o que esperamos de uma obra, que movimenta ou não nossa má vontade na direção da irritação. Particularmente, nada disso me incomodou em Nosso Lar 2: Os Mensageiros; talvez o excesso de personagens e a forma despachada com que o filme lida com eles seja menos compreensível, e acabe por nos deixando querendo mais de grandes atrizes como Julianne Trevisol, Fernanda Rodrigues e Vanessa Gerbelli. São elementos que, apresentados aqui, caberiam facilmente em outras produções, podendo ser divididas para projetos vindouros. Com a informação de que três novos capítulos entrarão em fila para produção, imaginamos que tantos universos poderiam ser absorvidos melhor se desenvolvidos a contento.

Mas qualquer comentário sobre Nosso Lar 2: Os Mensageiros que não cite Fábio Lago, não será justo, ao filme e ao ator. Lago não é novato, nem no cinema e nem na tv; o vemos há muito tempo, sem necessariamente ligar para o seu nome. Ano passado, estrelou a série Compro Likes, e há 7 anos assombrou a tv com uma interpretação corajosa de Nicácio em O Outro Lado do Paraíso. Agora, paralelo ao seu assombroso desempenho em Renascer, Lago compõe esse jovem mensageiro, um aprendiz em meio aos personagens de Edson Celulari e Renato Prieto. Pois ele rouba o filme a cada frase dita, seja na entonação que for – na comédia, no drama ou no terror, Lago é o dono do filme. Além disso, ele é a nossa porta de entrada para a humanidade de uma produção que muitas vezes parece estar dizendo “o que precisa ser dito”; Lago trás imprevisibilidade e humanidade a um projeto que poderia ter ainda mais de seu genial ator no DNA.

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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