Crítica | Streaming e VoD

Amálgama

Atraente pastel de vento

(Amalgama, MEX, 2020)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Carlos Cuarón
  • Roteiro: Carlos Cuarón
  • Elenco: Manolo Cardona, Stephanie Cayo, Miguel Rodarte, Tony Dalton, Francis Cruz
  • Duração: 92 minutos

Em certo ponto de Amálgama, estreia de hoje da Netflix, a palavra é explicada entre um personagem e outro, e com isso o título do filme também. É a combinação perfeita entre elementos, é o conjunto harmonioso que resulta no amalgamento, e um filme protagonizado por quatro figuras, dentistas em um congresso, quer se colocar nesse lugar de junção elementar. A essa altura, tudo que poderia dar errado entre eles já deu, e eles precisam encontrar uma forma de fugir uns dos outros, embora estejam em uma ilha deserta. Óbvio que não dá nada certo e obvio que não é isso que eles desejam, mas deveria ser suas intenções, tendo em vista os atritos que só estão esperando para nascer.

Carlos Cuarón é o irmão de Alfonso Cuarón, que junto a ele concorreu ao Oscar de roteiro por E Sua Mãe Também. De lá pra cá, a carreira de ambos não poderia ter sido mais diferente, com Alfonso tendo explodido nos EUA, ganho uma quantidade de Oscars absurda com Gravidade e Roma, enquanto o irmão permaneceu no México com filmes cada vez mais mais modestos, e carreira igualmente. Essa é a sua terceira incursão na direção, uma comédia absolutamente despretensiosa em forma e conteúdo, produto sobre o qual existe pouco a se debater ou debruçar tendo em vista sua simplicidade extrema. Não há um lugar para onde apontar que se encontre espaço de debate.

Sabendo disso de antemão, Amálgama talvez se torne então um charmoso conto sobre inveja nas relações humanas, manifestando-se mesmo entre relações de confiança e amizade. Quase que inteiramente ambientado em ilha nunca menos que espetacular localizada na Riviera Maia, o filme explora esse local de maneira suntuosa e não se prende muito a situações limites que possam se ancorar em extensão, vide por exemplo a cena do barco enguiçado. O filme tem plena consciência de que conta com um elenco enxuto demais e que a qualquer momento um momento mais alargado poderia ser configurado como uma sessão de teatro filmado, então ele não prende muito a nada, saltando para o próximo segmento até com alguma destreza.

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Nada disso impede que a trama do filme não seja curta demais, que poderia ter rendido um curta metragem muito mais vigoroso. Ritmo, no entanto, o filme até se encarrega de construir, com uma montagem que resolve essa questão pelas mãos de Sonia Sánchez Carrasco. Assim como a direção de fotografia apresenta igual valor de realização, explorando o espaço físico com habilidade e se movimentando com muita qualidade entre seus integrantes, trabalho de real de Alfredo Altamirano. Ou seja, ainda que não se extraia muito o que acrescentar a respeito de sua trama, Amálgama tenta dar conta do recado sem empacar com seu desenvolvimento.

Esse quarteto é vivido com alguma segurança pelos atores em cena, todos em conjunto confortável. Manolo Cardona (de Love Film Festival) também é produtor e reserva para si o personagem mais leve em cena, menos exasperado e tenso. Tony Dalton (de Better Call Saul) é o típico sedutor que esconde muitas frustrações e alguns segredos com o grande amigo vivido por Miguel Rodarte (de Tempo Compartilhado), esse sim um poço de angústias e em momento exatamente cheio de pilha, dando conta do recado sem exageros. A figura feminina do grupo é Stephanie Cayo (protagonista do recém lançado ‘Até a Próxima Vez’), que vive um romance extraconjugal com o chefe. Nenhum deles em cena aposta no exagero, o que dá ao filme um tom suave porém horizontal talvez até demais.

Essa, na verdade, deve ser uma acusação que pode ser feita a Amálgama – não há muito um motivo mais agudo pelo qual ele possa ser visto, ou uma camada que o torne um pouco mais atraente, do ponto de vista de sua narrativa. Estamos ao lado de quatro dentistas nada chatos em um espaço paradisíaco, porém o filme não deu substância suficiente para que nosso encontro com eles promova algum interesse por essas vidas tão mais ou menos. Sim, eles têm lá seus problemas e dilemas, mas nada tem um grande foco ou uma grande revelação, e o filme tende a achar que aquilo que acompanhamos reserva lá seu charme; uma hora e meia depois não estamos cansados, mas ainda não descobrimos seu porquê.

Um grande momento
O alto da torre

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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