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Oppenheimer é o grande vencedor do Globo de Ouro 2024

O retorno do prestígio do Globo de Ouro, prêmio que deixou de pertencer a marca HFPA (em tradução, Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood), mostrou que eles não estavam a fim apenas de manter sua lista de convidados com os maiores nomes do poder da indústria hoje. Salientou, ao fim da festa, que sua lista de indicados era mais sedutora do que a de vencedores, essa sendo mais consensual do que o início da festa poderia indicar. Acima de tudo, deixou claro que a noite deveria ser grande para todos, ou quase. O resultado foi um quadro de vencedores onde apenas Assassinos da Lua das Flores e O Menino e a Garça saíram com vitórias unitárias. Incluindo o espaço dedicado à televisão. 

O grande vencedor já está no título – Oppenheimer levou 5 prêmios, entre eles quatro imensos: melhor filme de drama, direção para Christopher Nolan, ator para Cillian Murphy e melhor ator coadjuvante para Robert Downey Jr., provando que seu quase bilhão de bilheteria surtiu efeito. No campo comédia ou musical, o vencedor foi Pobres Criaturas, que ainda viu sua protagonista Emma Stone sair vitoriosa de uma difícil disputa. 

Também ganharam mais de um prêmio Os Rejeitados, em melhor ator em comédia para Paul Giamatti e atriz coadjuvante para Da’Vine Joy Randolph; Anatomia de uma Queda levou o esperado de filme internacional e um inesperado de melhor roteiro, e até Barbie saiu duplamente coroado, em melhor canção e no novo prêmio de “conquista cinematográfica e de bilheteria”. 

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O filme de Martin Scorsese foi uma das únicas produções a sair da festa com um único troféu, no caso, melhor atriz em drama para a favorita Lily Gladstone. Parece e é pouco, mas ao pensar na quantidade de prêmios convertidos por Maestro (número: zero), e outros filmes melhores e mais badalados que o filme de Bradley Cooper, como Vidas Passadas e Zona de Interesse, o filme sobre a saga de uma família de mulheres da tribo Osage que veem o massacre indígena à sua volta nos idos de 1920, parte de maneira tímida, porém não deve perder a esperança. 

A situação da biografia sobre o criador da bomba atômica que consagra de vez o método de sedução que Nolan exerce sobre a plateia é quem deve ver o copo definitivamente meio cheio, mas preocupar-se com o reflexo que pode revelar seu futuro. O Globo de Ouro não é necessariamente o melhor e mais acurado predicador da temporada, e por muitas vezes seu grande vencedor parte de sua festa para uma senhora decepção posterior, onde o olho do produtor mira: o Oscar. 

Os vencedores do ano passado foram Os Fabelmans e Os Banshees de Inisherin, uma festa de onde saíram também premiadas as atuações dos protagonistas de Elvis e Tár; todos saíram do Oscar sem nenhum prêmio. Ataque dos Cães e Amor Sublime Amor foram os campeões do ano anterior – derrotados na Academia. A mesma coisa aconteceu com 1917, Era uma Vez em Hollywood, Três Anúncios para um Crime, Ladybird, Boyhood, O Regresso, O Grande Hotel Budapeste, A Rede Social, Avatar, Brokeback Mountain e a lista não tem fim. Lógico que acontece dos resultados convergirem, mas cada vez menos isso se torna uma tendência. 

Poderíamos dizer que Oppenheimer será um grande perdedor em 10 de março próximo? Dificilmente, mas especificamente o Oscar de melhor filme me parece uma realidade fácil de escapar pelos dedos. Além do épico de Scorsese ter um discurso muito mais antenado com os novos tempos, os votantes jovens e uma ideia de premiação mais temática que a Academia aprecia cada vez mais, outros longas como Os Rejeitados e o próprio Barbie apontam muito mais para o futuro que a cinebiografia de J. Robert Oppenheimer. Enquanto discussão sobre bilheteria, inclusive, o filme de Greta Gerwig fez o que o drama fez + 500 milhões, uma diferença enorme.

Além disso, uma premiação também é sobre influência, simpatia e sobre o quanto e como se deseja “chegar lá”. Se você deseja desesperadamente a ponto de realizar uma obra com essa finalidade como única, como Bradley Cooper, essa não é a saída; se o seu filme for ruim como o dele, isso é ainda pior. Não há nada contra você querer muito um Oscar, mas não transpareça; Gladstone, Scorsese, Giamatti, Randolph e mesmo Downey Jr. são figuras muito mais simpáticas e leves que o peso que Nolan carrega, nas costas e no rosto. 

Mas ninguém é bobo nesse trabalho, e o diretor de A Origem já deixou isso claro no palco do Globo de Ouro. O penúltimo prêmio da noite foi dado a Lily Gladstone, mulher de origem indígena ganhando um prêmio histórico, discursando em sua língua materna, clamando em sua própria figura pelo reconhecimento histórico que os ativos ainda aguardam receber. Na sequência, a premiação como melhor filme da noite para uma produção cujo elenco é 95% composto por homens brancos, e três mulheres – igualmente brancas. Qual a saída para isso? Colocar para discursar a única produtora mulher do filme, e deixar que a simpatia dela deixe correr pelas entrelinhas “ei, não nos veja como um filme sem representatividade, embora seja exatamente isso que sejamos”. 

As cartas estão lançadas, e ainda teremos alguns prêmios televisionados, onde a batalha entre Nolan e Scorsese, testemunhados de perto por Gerwig e Alexander Payne (diretor de Os Rejeitados) estarão atentos para o primeiro escorregão. Que vença… quem estiver mais bem preparado. 

Vencedores do Globo de Ouro 2023:

FILME – DRAMA: Oppenheimer 

FILME – COMÉDIA/MUSICAL: Pobres Criaturas 

CONTRIBUIÇÃO CINEMATOGRÁFICA DE BILHETERIA: Barbie

DIREÇÃO: Christopher Nolan, Oppenheimer

ATOR – DRAMA: Cillian Murphy, Oppenheimer

ATRIZ – DRAMA: Lily Gladstone, Assassinos da Lua das Flores 

ATOR – COMÉDIA/MUSICAL: Paul Giamatti, Os Rejeitados

ATRIZ – COMÉDIA/MUSICAL: Emma Stone, Pobres Criaturas

ATOR COADJUVANTE: Robert Downey Jr, Oppenheimer

ATRIZ COADJUVANTE: Da’Vine Joy Randolph, Os Rejeitados 

ROTEIRO: Anatomia de uma Queda 

FILME INTERNACIONAL: Anatomia de uma Queda

ANIMAÇÃO: O Menino e a Garça 

TRILHA SONORA: Oppenheimer

CANÇÃO: ‘What I Was Made For?’, Barbie

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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