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Começa hoje a 12ª Ecofalante

Começa hoje (1º) e vai até o dia 14 de junho, em São Paulo, a 12ª edição da Mostra Ecofalante de Cinema. Com entrada franca, a seleção traz mais de 100 filmes às telas da capital paulista, com obras premiadas nos principais festivais do mundo, como Cannes, Berlim, Cinéma du Réel e Tribeca, e dá um destaque especial este ano para questões relacionadas aos povos indígenas e ao racismo.

Considerada como um dos maiores festivais do Brasil e o mais importante evento audiovisual sul-americano dedicado a temas socioambientais, as sessões acontecem no Espaço Itaú de Cinema – Augusta, Centro Cultural São Paulo, Cine Olido e Biblioteca Roberto Santos. Completam o circuito de exibição unidades do Centro Educacional Unificado – CEU, Casas de Cultura, Fábricas de Cultura e Centros Culturais.

A seleção conta com estreias mundiais, uma sessão especial e um programa infantil, um trabalho em realidade virtual, uma série de atividades paralelas que incluem uma masterclass com o pensador martiniquês Malcolm Ferdinand e uma oficina de cinema ambiental com Jorge Bodankzy, além de um ciclo de debates.

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Na programação dos filmes estão as tradicionais Competição Latino-americana, Concurso Curta Ecofalante e Panorama Internacional Contemporâneo. Além da Mostra Histórica, dedicada este ano ao tema “Fraturas (pós-)coloniais e as Lutas do Plantationoceno” e traz 17 títulos icônicos realizados de 1966 a 1984, que discutem a herança do colonialismo em diferentes partes do planeta.

Temáticas relativas aos povos indígenas e seus territórios marcam parte das produções selecionadas este ano para a Competição Latino-americana, havendo espaço nos 33 selecionados para discussões sobre racismo, migração e trabalho.

A lista completa dos títulos selecionados para a Competição Latino-americana é a seguinte:

LONGAS
A Ferrugem (Colômbia) – Juan Sebastian Mesa
A Invenção do Outro (Brasil) – Bruno Jorge
A Praia dos Enchaquirados (Equador) – Ivan Mora Manzano
Amazônia, A Nova Minamata? (Brasil) – Jorge Bodanzky
Aqui en la Frontera (Brasil) – Marcela Ulhoa e Daniel Tancredi
Deuses do México (México/EUA) – Helmut Dosantos
Mamá (México) – Xun Sero
Diálogos com Ruth de Souza (Brasil) – Juliana Vicente
Exu e o Universo (Brasil) – Thiago Zanato
No Vazio do Ar (Brasil) – Priscilla Brasil
Odisseia Amazônica (Peru) – Terje Toomistu, Alvaro Sarmiento e Diego Sarmiento
Perlimps (Brasil) – Alê Abreu
Vento na Fronteira (Brasil) – Laura Faerman e Marina Weis

CURTAS:
A Febre da Mata (Brasil) – Takumã Kuikuro
Aribada (Colômbia/Alemanha) – Simon(e) Jaikiriuma Paetau e Natalia Escobar
Chão de Fábrica (Brasil) – Nina Kopko
Entre a Colônia e as Estrelas (Brasil) – Lorran Dias
Estrelas do Deserto (Chile) – Katherina Harder Sacre
Fantasma Neon (Brasil) – Leonardo Martinelli
Fantasmagoria (Chile/França/Suíça) – Juan Francisco González
Fogo no Mar (Argentina) – Sebastián Zanzottera
Infantaria (Brasil-AL, 2022, 24 min) – Laís Santos Araújo
Levante pela Terra (Brasil) – Marcelo Cuhexê
Mãri hi – A Árvore do Sonho (Brasil) – Morzaniel Ɨramari
Paulo Galo: Mil Faces de um Homem Leal (Brasil) – Felipe Larozza e Iuri Salles
Quem de Direito (Brasil) – Ana Galizia
SOLMATALUA (Brasil) – Rodrigo Ribeiro-Andrade
Tekoha (Brasil) – Carlos Adriano
Terremoto (Brasil) – Gabriel Martins
Thuë pihi kuuwi – Uma Mulher Pensando (Brasil) – Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami
Um Tempo para Mim (Brasil) – Paola Mallmann
XAR – Sonho de Obsidiana (Brasil) – Fernando Pereira dos Santos e Edgar Calel
Xixiá – Mestre dos Cânticos Fulni-ô (Brasil) – Hugo Fulni-ô

Já o Concurso Curta Ecofalante promove competição entre curtas-metragens realizados em universidades e cursos audiovisuais. Em 2023, participam 18 produções, representando os estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo. 

No Panorama Internacional Contemporâneo, com 27 filmes de 26 países, destaca-se uma seleção de títulos que abordam sobretudo questões ligadas ao racismo, mas que também não deixam de falar do legado do colonialismo e suas muitas consequências socioambientais presentes até os dias de hoje. Entre eles estão Filhos do Katrina, longa-metragem que discute racismo ambiental a partir das consequências do furacão Katrina; Duas Vezes Colonizada, sobre o ativismo de uma defensora dos direitos humanos inuíte no parlamento europeu; Uma História de Ossos, sobre a luta de uma consultora africana para dar um fim digno aos restos mortais de mais de oito mil ‘africanos libertos’, descobertos durante a construção de um aeroporto na remota ilha de Santa Helena. 

A seção traz abordagens de fluxos migratórios em títulos como Recursos, elogiado no importante festival de documentários IDFA-Amsterdã; O Último Refúgio, filme premiado no festival dinamarquês CPH:DOX, que registra um abrigo temporário de migrantes na África; e Xaraasi Xanne (Vozes Cruzadas), filme de arquivo que lança luz sobre a violência da agricultura colonial no continente africano, premiado no tradicional festival Cinéma du Réel, na Suíça. 

Discussões econômicas – sempre presentes no Panorama Internacional Contemporâneo – estão no centro de títulos da seção. Filme mais recente de Gabriela Cowperthwaite, o trepidante A Apropriação revela os esforços secretos de governos e multinacionais para controlar comida e água no mundo. Em Amor e Luta em Tempos de Capitalismo, produção francesa exibida no CPH:DOX e no Festival de Documentários DMZ com direção de Basile Carré-Agostini, o casal midiático formado pelos sociólogos Monique Pinçon-Charlot e Michel Pinçon, conhecido por suas pesquisas de mais de cinco décadas sobre os ultra-ricos, é retratado no auge do movimento dos Coletes Amarelos. Sobrinha-neta de Walt Disney e herdeira da The Walt Disney Company, Abigail Disney é documentarista e ativista social.

Em O Sonho Americano e Outros Contos de Fadas, codirigido por Kathleen Hughes, a profunda crise de desigualdade nos Estados Unidos é abordada usando o legado de sua família como um estudo de caso para explorar criticamente a intersecção entre racismo, poder corporativo e o sonho americano. Em O Retorno da Inflação, de Matthias Heeder discute-se os mecanismos que contribuíram para o retorno da inflação que atualmente atinge o mundo com força total e como pessoas de diferentes meios sociais reagem a ela. A Máquina do Petróleo, filme britânico de Emma Davies, toma o exemplo da óleo-dependência do Reino Unido para falar sobre como as principais economias contemporâneas – principalmente no hemisfério norte – se apoiam em boa parte sobre a indústria do petróleo. Já Deep Rising: A Última Fronteira revela as intrigas em torno da obtenção de recursos naturais no solo dos oceanos.

Uma programação é dedicada às estreias mundiais em salas de cinema de três títulos brasileiros que abordam o embate entre indígenas e garimpeiros, queimadas em quatro biomas do país e deslocamento de toda uma população. 

Cinzas da Floresta, de André D’Elia, registra uma expedição com o ativista Mundano que percorreu mais de dez mil quilômetros por quatro grandes biomas: Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica como o objetivo de produzir uma cartela em tons de cinza a partir do carvão e das cinzas de restos de árvores e de animais carbonizados. Com esse material foi pintado um painel a partir da famosa obra modernista do artista plástico Candido Portinari (1903-1962) “O Lavrador de Café”.

O filme Escute, A Terra Foi Rasgada, de Fred Rahal Mauro e Cassandra Mello, registra o acampamento Luta pela Vida, em Brasília, no qual lideranças dos povos Mebêngôkre (Kayapó), Munduruku e Yanomami se uniram para escrever uma carta-manifesto em repúdio à atividade garimpeira. Na sessão promovida pela 12ª Mostra Ecofalante de Cinema têm presença confirmada as lideranças indígenas da “Aliança em Defesa dos Territórios”: Davi Kopenawa, Beka Munduruku e Maial Kayapó. 

Parceiros da Floresta, de Fred Rahal Mauro, percorre três continentes evidenciando casos de parcerias entre setores privado, público e comunidades locais que geram soluções para a proteção e restauração de florestas tropicais globais aliando tecnologia, negócios e conhecimento tradicional para gerar benefícios verdadeiramente compartilhados.

Na Mostra Histórica “Fraturas (pós-)coloniais e as Lutas do Plantationoceno”, são exibidos clássicos da cinematografia militante do período das décadas de 1960 a 1980 que refletem sobre as marcas do colonialismo nos diversos territórios, sobretudo do sul global. É o caso de A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo, que a mostra exibe em versão restaurada em 4K pela Cinemateca de Bolonha e Instituto Luce Cinecittà. A obra, que foi proibida pela censura da ditadura militar brasileira, ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e foi  indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro, melhor diretor e melhor roteiro. 

A aculturação de uma minoria mexicana inspirou o cineasta Paul Leduc a realizar o crítico e irônico Etnocídio. Marco do documentarismo brasileiro e referência mundial, Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, também está incluído. Com passagens pelos festivais de Cannes e Berlim (onde foi premiado), Emitaï traz as marcas do cinema político de seu diretor, o senegalês Ousmane Sembène, um dos pioneiros do cinema africano.

Três filmes dirigidos por mulheres e restaurados pelo Instituto Arsenal, de Berlim, também fazem parte do programa: Eu, Sua Mãe (Senegal/Alemanha, 1980), da recém falecida pioneira do cinema senegalês e africano Safi Faye; Nossa Voz de Terra, Memória e Futuro (Colômbia, 1982), de Marta Rodríguez e Jorge Silva, e A Zerda e os Cantos do Esquecimento (Argélia, 1982), um dos dois filmes dirigidos pela poeta e escritora argelina Assia Djebar e que era considerado perdido antes que uma cópia dele fosse redescoberta nos arquivos do Arsenal há alguns anos. A mostra também traz uma preciosidade recém restaurada pelo Harvard Film Archive, I Heard It through the Grapevine (1981), documentário de Dick Fontaine estrelado por James Baldwin, em que o escritor viaja pelos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que faz um balanço das lutas pelos direitos civis e melhora das condições de vida das comunidades negras em seu país. 

Uma sessão especial exibe Mulheres na Conservação, dirigido pela jornalista Paulina Chamorro e pelo fotógrafo João Marcos Rosa. O documentário, desenvolvido a partir da websérie homônima, mostra na prática o trabalho realizado por sete mulheres que lutam pela conservação da biodiversidade no país e que são referência em suas áreas de atuação.

Uma sessão infantil está incluída na programação da 12ª Mostra Ecofalante de Cinema. Nela, ganha projeção o longa A Viagem do Príncipe, de Jean-François Laguionie e Xavier Picard, obra exibida nos festivais de Locarno, Roterdã, BFI Londres e na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Destaca-se na programação ainda um trabalho em realidade virtual, assinado por Estêvão Ciavatta. Trata-se de Amazônia Viva, no qual a cacica Raquel Tupinambá, da comunidade de Surucuá (Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns, no Pará), guia o espectador em uma viagem pelo rio Tapajós, em um passeio virtual em 360º.

A programação completa, com todas as informações sobre exibições e demais atividades do evento poderão ser encontradas na plataforma Ecofalante: www.ecofalante.org.br

Redação

O Cenas de Cinema é um veículo informal e divertido que tem como principal objetivo divulgar a sétima arte, com críticas, notícias, listas e matérias especiais
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