Crítica | CinemaDestaque

Godzilla e Kong: O Novo Império

Excesso de repetições

(Godzilla x Kong: The New Empire, EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Aventura
  • Direção: Michael Wingard
  • Roteiro: Terry Rossio, Simon Barrett, Jeremy Slater, Adam Wingard
  • Elenco: Rebecca Hall, Bryan Tyree Henry, Dan Stevens, Kaylee Hottle, Alex Ferns, Rachel House, Fala Chen
  • Duração: 110 minutos

De repente, parece que fomos atirados em uma produção espalhafatosa do início dos anos 1980, em textura, cores e assunto. Mas não é isso, e sim Godzilla e Kong: O Novo Império, um título inusitado mas que tem a cara do que têm se compreendido como ousadia nos últimos anos. Tanto é que, o que foi verdadeiramente ousado em Speed Racer das irmãs Wachowski, hoje sobrou só o gosto. De lá pra cá, não faltaram tentativas, como em Thor: Amor e Trovão, Besouro Azul e afins, títulos que acham que descobriram uma nova forma de realizar ação ao misturá-la com luzes em neon, iluminação de led e cores laminadas. A verdade é que Flash Gordon e principalmente Xanadu ficaram em um tempo há muito ultrapassado, e que embora valham as tentativas de tentar revisitar o período, nada sequer chegou perto da uniformidade adquirida lá. 

Não podemos negar que Adam Wingard não esteja tentando já há alguns bons anos, com resultados disparatados. Às vezes, o acerto é inquestionável (O Hóspede), e em outros momentos ele acaba comprando brigas demais (Death Note). Esse já é o seu segundo filme do multiverso de monstros que a Warner inaugurou, e fica no ar a impressão de que ele tenta se debater contra poderes muito maiores do que ele seria capaz de alcançar. Em outras palavras, Godzilla e Kong: O Novo Império é um produto maior que qualquer autoria, e Wingard não tem aqui a mesma liberdade de atuação que em títulos menos agigantados. Existe sim o olhar inquestionável do cineasta, suas cores como marca registrada, mas acima de tudo existe o poder da máquina hollywoodiana. 

Enquanto produto produzido em larguíssima escala, Godzilla e Kong: O Novo Império segue padrões que qualquer outro diretor precisaria cumprir, e mais uma vez a trama ‘humana’ tem o interesse de quase ninguém. Os blocos narrativos que incluem seus protagonistas resolvendo suas pendências sozinhos, seja na Terra ou no núcleo dela (a chamada Terra Oca), sobram em todos os sentidos. São nesses momentos livres da obrigação com a interação entre espécies, que o filme se mostra maior e melhor. Mas os tais elos de conexão com a nossa espécie, e os momentos desinteressantes onde eles estão sozinhos, puxam a produção constantemente para baixo, sem chance de reanimar quem quer mais do que isso. 

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Particularmente Kong em sua saga cada vez mais interiorizada, tentando encontrar sentido nas coisas, reconhecer-se entre seus pares e descobrir uma amizade improvável, no meio de uma dor de dente (!!!), é uma figura que queremos seguir. As sequências o mostram se enveredando por uma seara sensorial, onde apenas a imagem fala por si, e isso é, como diria o meme, ‘absolute cinema’. É até estranho que tantas sequências coloquem um dos protagonistas nesse lugar, e Godzilla e Kong: O Novo Império não perceba que tais cenas deveriam ser divididas entre eles; Godzilla soa quase deslocado na narrativa. A festa só é completa quando os protagonistas roubam o filme para si, ocupando o protagonismo sem pedir licença. 

Por mais talentosos que sejam Rebecca Hall, Bryan Tyree Henry e Dan Stevens, suas linhas narrativas não importam muito para o que o filme foi feito, e alguns pontos são ainda abaixo de desimportantes. Um exemplo claro é a óbvia inserção ecológica que o filme precisa abraçar, com povos milenares que moram incrustados no planeta e sua tentativa de cultivar da biosfera, do equilíbrio entre fauna e flora; soa, mais uma vez e sem qualquer surpresa, forçado e muito enfadonho. Independente da qualidade de seus atores, as linhas gerais parecem entender que aquilo ali é um plus desnecessário; todos querem ver os bichos, e só os bichos interessam como um todo. Logo, todas as interações humanas só não são ainda mais estressantes, justamente porque seus atores são muito bons. 

O excesso de CGI não é um problema; ele ajuda a contar a história a partir da complexa estrutura imagética exigida. Também não existe um excesso de cores, e sim um acerto em tratar tudo de maneira tão espetaculosa. Os animais criados para o filme explodem em sangue quando mortos, a cor de seus interior é que difere – ora é de um amarelo vivo, em outro momento é verde. Isso tudo ajuda a criar esse mundo particular que o filme não cessa em tentar mergulhar cada vez mais, ainda que em determinado momento tudo pareça um grande e extravagante piloto automático. Para nós brasileiros, o plus de Godzilla e Kong: O Novo Império é assistir a orla do Rio de Janeiro ser dizimada, com requintes de detalhes. Parece que depois de Roland Emmerich ter tentado, Wingard foi lá e nos homenageou com uma destruição das melhores. 

Um grande momento

A briga em quarteto

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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