Em uma temporada longuíssima, maior que o habitual, e com as corridas ficando cada vez mais extenuantes, durando mais de três meses entre o primeiro prêmio dado e o último, terminou hoje com a consagração extremada de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo na noite dos Oscars mais uma “guerra por bonecos”. Foram sete troféus, uma vitória praticamente sem precedentes porque uniu filme, direção, roteiro, três atuações e mais um plus, pra montagem. Comparações com títulos e performances distintas (como Rede de Intrigas e Um Bonde Chamado Desejo, ambos vencedores de três troféus de atuação cada, mas nenhum dos dois com filme e direção) deixam claro que o feito do longa de Daniel Kwan e Daniel Scheinert é mesmo impressionante.
Independente do que disseram – e continuarão dizendo – os detratores do material, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo não é mesmo somente uma salada que mistura elementos popularizados das HQs, como o conceito dos multiversos, com uma linguagem pop sedutora e jovem. O filme, que nem mantém isso como algo escondido, é uma jornada além de tudo filosófica sobre como enxergamos os caminhos que nunca percorremos, mas que não cansam de nos perturbar; sabe o ‘e se…’, relacionado a tudo que poderíamos ter sido e feito ao longo da vida? Então, o filme acompanha uma mulher à beira da falência, com inúmeros problemas familiares e um relacionamento em ruínas com marido e filha, que em meio ao caos, se questiona sobre a validade de suas decisões, ao mesmo tempo em que tenta resgatar tudo o que construiu para encontrar sanidade e alívio.
Exageros à parte, o filme é o maior vencedor do Oscar desde Quem Quer ser um Milionário?, em uma prática incomum hoje em dia. Há mais de 10 anos que o vencedor do Oscar de melhor filme não ganhava mais que 4 prêmios no total, e nos últimos tempos não é comum também tantos filmes saírem sem qualquer prêmio da festa – esse ano igualou-se a 2014, com cinco títulos só tendo ido para festa aplaudir: TÁR, Os Fabelmans, Os Banshees de Inisherin, Elvis e Triângulo da Tristeza.
A jovem produtora e distribuidora A24, tão amada quanto odiada por hordas de cinéfilos, não apenas levou pra casa esses sete troféus, como também os dois de A Baleia, mostrando que esse foi seu melhor ano, definitivamente; eles já tinham vencido o Oscar de melhor filme antes com Moonlight.
Esse foi o primeiro ano desde 2006 onde todos os vencedores de atuação foram para atores na primeira indicação, embora os quatro tenham uma carreira pra lá de longeva. Na verdade, podemos dizer que o Oscar de 2023 representou a consagração de atores que, ou estavam estagnados na carreira, com a mesma praticamente encerrada (Brendan Fraser e Ke Huy Quan), ou o reconhecimento tardio a mulheres que não jogaram com os peões que a indústria costuma simpatizar. Atrizes ligadas essencialmente ao cinema de gênero, sejam as artes marciais, o horror ou a comédia, Michelle Yeoh e Jamie Lee Curtis são lendárias no que fazem, mas nunca tinham tido algo parecido com respeito, mesmo arrecadando rios de dinheiro para os chefões. Podemos dizer que foi um quarteto de ‘outsiders’ premiado esse ano.
O outro lugar que mais uma vez bate na trave é a Netflix, que saiu com quatro prêmios para Nada de Novo no Front, tendo assim seu filme com o maior número de prêmios numa mesma noite. Além do drama de guerra, a Netflix ainda conseguiu o prêmio de curta documental, para Como Cuidar de um Bebê Elefante, além de ter distribuído internacionalmente o sucesso indiano RRR, vencedor da categoria de melhor canção. São mais alguns passos da gigante do streaming rumo ao sonho da estatueta principal.
A despeito de termos tido um grupo de belos filmes saindo sem prêmios, a noite do Oscar 2023 mostrou que um pequeno filme de 25 milhões de dólares, ao arrecadar mais de quatro vezes seu custo, pode chegar com potencial de quebrar a banca entre os grandes do mercado. Se ainda não foi dessa vez que a Academia voltou a premiar uma bilheteria avassaladora como Argo (o último grande blockbuster vencedor), ao menos parte do público se viu reconhecida e representada na vitória de uma produção tão ‘sui generis’, que mostra que a tal “cara de Oscar” precisa aparecer de vez em quando, mas está cada vez mais sujeita a ataques de bichos estranhos como esse.
Abaixo, os concorrentes e vencedores do Oscar 2023:
Melhor filme
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
Outros indicados
Nada de Novo no Front
Avatar – O Caminho da Água
Os Banshees de Inisherin
Elvis
Os Fabelmans
TÁR
Top Gun: Maverick
Triângulo da Tristeza
Entre Mulheres
Melhor atriz
Michelle Yeoh (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo)
Outras indicadas
Cate Blanchett (TÁR)
Ana de Armas (Blonde)
Andrea Riseborough (To Leslie)
Michelle Williams (Os Fabelmans)
Melhor ator
Brendan Fraser (A Baleia)
Outros indicados
Colin Farrell (Os Banshees de Inisherin)
Austin Butler (Elvis)
Bill Nighy (Living)
Paul Mescal (Aftersun)
Melhor diretor
Daniel Kwan e Daniel Scheinert (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo)
Outros indicados
Martin McDonagh (Os Banshees de Inisherin)
Steven Spielberg (Os Fabelmans)
Todd Field (TÁR)
Ruben Östlund (Triângulo da Tristeza)
Melhor edição
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
Outros indicados
Os Banshees de Inisherin
Elvis
TÁR
Top Gun: Maverick
Melhor canção original
“Naatuu Naatu”, do filme RRR – Revolta, Rebelião, Revolução, música de M.M. Keeravaani, letra de Chandrabose
Outros indicados
“Applause”, de Elas por Elas, música e letra de Diane Warren
“Hold my hand”, de Top Gun: Maverick, música e letra de Lady Gaga e Bloodpop
“Lift me up”, de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, música de Tems, Rihanna, Ryan Coogler e Ludwig Goransson, letra de Tems e Ryan Coogler
“This is life”, de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, música de Ryan Lott, David Byrne e Mitski, letra de Ryan Lott e David Byrne
Melhor som
Top Gun: Maverick
Outros indicados
Nada de Novo no Front
Avatar – O Caminho da Água
Batman
Elvis
Melhor roteiro adaptado
Entre Mulheres
Outros indicados
Nada de Novo no Front
Glass Onion: Um Mistério Knives Out
Living
Top Gun: Maverick
Melhor roteiro original
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
Outros indicados
Os Banshees de Inisherin
Os Fabelmans
TÁR
Triângulo da Tristeza
Melhores efeitos visuais
Avatar – O Caminho da Água
Outros indicados
Nada de Novo no Front
Batman
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
Top Gun: Maverick
Melhor trilha sonora
Nada de Novo no Front
Outros indicados
Babilônia
Os Banshees de Inisherin
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
Os Fabelmans
Melhor desenho de produção
Nada de Novo no Front
Outros indicados
Avatar – O Caminho da Água
Babilônia
Elvis
Os Fabelmans
Melhor curta de animação
O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo
Outros indicados
The Flying Sailor
Ice Merchants
My Year of Dicks
An Ostrich Told Me the World Is Fake and I Think I Believe It
Melhor curta documental
Como Cuidar de um Elefante Bebê
Outros indicados
Haulout
How Do You Measure a Year?
O Efeito Martha Mitchell
Stranger at the Gate
Melhor filme internacional
Nada de Novo no Front
Outros indicados
Argentina, 1985
Close
EO
The Quiet Girl
Melhor figurino
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
Outros indicados
Babilônia
Elvis
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
Sra. Harris Vai a Paris
Melhor maquiagem e cabelo
A Baleia
Outros indicados
Nada de Novo no Front
Batman
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
Elvis
Melhor fotografia
Nada de Novo no Front
Outros indicados
Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades
Elvis
Império da Luz
TÁR
Melhor curta live-action
An Irish Goodbye
Outros indicados
Ivalu
Le Pupille
Night Ride
The Red Suitcase
Melhor documentário
Navalny
Outros indicados
Tudo o que Respira
All the Beauty and the Bloodshed
Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft
A House Made of Splinters
Melhor atriz coadjuvante
Jamie Lee Curtis (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo)
Outras indicadas
Angela Bassett (Pantera Negra: Wakanda Para Sempre)
Hong Chau (A Baleia)
Kerry Condon (Os Banshees de Inisherin)
Stephanie Hsu (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo)
Melhor ator coadjuvante
Ke Huy Quan (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo)
Outros indicados
Brendan Gleeson (Os Banshees de Inisherin)
Brian Tyree Henry (Passagem)
Judd Hirsch (Os Fabelmans)
Barry Keoghan (Os Banshees de Inisherin)
Melhor animação
Pinóquio (de Guillermo del Toro)
Outros indicados
Gato de Botas 2: O Último Pedido
Marcel the Shell With Shoes On
A Fera do Mar
Red: Crescer é uma Fera