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Oscar 2022: Vencedores

Para uma cerimônia tão previsível, onde uma virada tão esperada quanto injusta foi gestada durante um mês e acabou por definir uma vitória nada merecida, um ato impensado acabou por transformar a cerimônia de entrega dos Oscars 2022 em algo no mínimo surreal. Cinco anos depois da troca dos envelopes que resultou no anúncio de La La Land no melhor filme do ano, quando o vencedor havia sido Moonlight, uma situação inimaginável trouxe ao palco do Teatro do Museu da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas um fim inusitado, e bem amargo para todos os envolvidos.

Em muito pouco tempo, a vitória de No Ritmo do Coração terá sido esquecida. Não creio que a Academia se envergonhará dela, como hoje já faz com Green Book, Crash e O Discurso do Rei, vitoriosos medíocres em anos com candidatos de qualidades infinitamente superiores (Roma e Infiltrados na Klan no primeiro caso, O Segredo de Brokeback Mountain e Munique no segundo, A Rede Social e Cisne Negro no terceiro), a despeito de indicados do nível de Ataque dos Cães e Licorice Pizza. O filme dirigido por Sian Heder, remake do sucesso francês A Família Belier, é o primeiro filme vencedor do Oscar protagonizado por pessoas deficientes auditivas, e arrebatou o público em um mês. Terá sua validade contestada em algum momento? Sim, mas não atacada, ou abominada como os exemplos acima.

No campo da justiça, Jane Campion se torna a terceira mulher a vencer a categoria de melhor direção, apenas um ano após Chloe Zhao por Nomadland. Seu trabalho em Ataque dos Cães ganhou o maior número de prêmios do ano, em qualquer categoria – foram quase 50 láureas para ela, quase uma unanimidade. Seu filme, um favorito que se construiu em fogo brando, chegou a ter força descomunal em situação quase imbatível. Terá sido mais uma forma de punir a Netflix, produtora e distribuidora da produção? Por mais que a Apple tenha distribuído ‘No Ritmo do Coração’, sua gestação foi feita de forma absolutamente independente, e sua compra foi realizada no Festival de Sundance do ano passado. Aliás, o filme se torna o primeiro vencedor do festival a conquistar o prêmio máximo da Academia.

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Ainda falando sobre merecimento, Drive my Car, o primeiro filme japonês indicado na categoria principal, levou pra casa a estatueta de filme internacional, em uma briga que não estava fácil contra A Pior Pessoa do Mundo. Ryusuke Hamaguchi, um jovem diretor que explodiu com o filme e com Roda do Destino no mesmo ano, acaba por levar para seu país um prêmio que já tinha sido dado quatro vezes antes, a última por A Partida. O filme venceu em um ano muito forte de sua categoria, onde produções da Itália, da Noruega, da Dinamarca e do Butão – estreante na premiação – concorriam com produções todas com a cara da categoria, e que poderiam facilmente terem vencido em qualquer outro ano.

Entre as atuações, um show de merecidas obviedades para Jessica Chastain, Troy Kotsur e Ariana DeBose. Vencedores respectivamente por Os Olhos de Tammy Faye, No Ritmo do Coração e Amor Sublime Amor, foram bastante reconhecidos durante a corrida, com a jovem de 31 anos sendo a atriz mais premiada entre as coadjuvantes do ano. Chastain e Kotsur promoveram viradas em cima de Kristen Stewart (Spencer) e Kodi Smit-McPhee (Ataque dos Cães), que foram muito reconhecidos pelas associações de críticos do ano, mas não tiveram esse mesmo carinho junto à indústria, em interpretações menos óbvias do que a Academia costuma abraçar e celebrar.

Os prêmios de roteiro, em um ano especialmente triste para ambas as categorias, foram para No Ritmo do Coração, fechando uma trinca tradicional do Oscar nos últimos anos – filme, coadjuvante e roteiro – e Belfast, um prêmio de consolação para um filme que parecia favorito há seis meses atrás, e que já chegou nas indicações combalido, tendo bem menos indicações do que era possível. Não eram prêmios justos de maneira alguma, ambos coroando filmes de narrativa simplista, e o longa de Kenneth Branagh até reducionista. Não é que não sejam premiados roteiros fracos de vez em quando (vide Green Book, O Jogo da Imitação, Preciosa, …), mas o que espanta são as duas categorias na mesmo temporada incorrerem em erros e facilitações, um populismo que nos últimos dois anos parecia afastado.

Duna obviamente dominou as categorias técnicas, levando inclusive uma categoria onde sua vitória deveria ser contestada, em melhor fotografia. Mas não deixaram de ser óbvias e aborrecidas as premiações técnicas, sem surpresas ou ousadias. Talvez um dos prêmios mais surpreendentes tenha vindo de uma categoria mais setorizada, a de melhor curta-metragem em animação. O favorito A Sabiá Sabiazinha‘ viu seus esforços não renderem em prêmio, e The Windshield Wiper sagrou-se um vencedor com merecimento.

A Netflix conseguiu ter uma noite ainda pior que a do ano passado. Lá ela viu Os 7 de Chicago sair sem nada, o grandioso Mank apenas mordiscar dois Oscars técnicos e A Voz Suprema do Blues ter desempenho muito ruim na premiação, porém tiveram quatro prêmios não principais, e mais as categorias de documentário em longa, e duas das categorias de curta metragem contempladas. Esse ano, o recorde de indicações se transformou apenas na vitória de Jane Campion; ainda que seja uma vitória de peso, a segunda mais importante da noite, o filme tinha 12 indicações e conseguiu converter apenas um troféu. Os outros filmes, nem isso.

O episódio lamentável envolvendo Will Smith, sua esposa Jada Pinkett e o comediante Chris Rock, a pouco tempo do fim da cerimônia e minutos antes da vitória do próprio Smith como melhor ator, infelizmente, será o ponto de relevo de uma cerimônia onde muitas mudanças foram testadas e seus resultados tenham soado como estranhos. Para quê sacrificar a presença de oito categorias na cerimônia, se seus indicados seriam acoplados ao todo e o tempo economizado tão ínfimo? Não deu certo de maneira alguma, e mais uma vez pareceu uma medida ridícula. A inadequação da piada infame de Rock, o destempero do melhor ator do ano no momento maior de sua carreira e sua posterior imagem, repleta de vergonha em lágrimas que pareciam não cessar, capturaram toda a atenção do fim de uma noite que se tornará inesquecível pelo episódio, arranhando ainda mais uma vitória na categoria principal absolutamente questionável.

Vide os vencedores:

Melhor filme

No Ritmo do Coração

Outros indicados

Melhor direção

Ataque dos Cães Jane Campion

Outros indicados

Melhor atriz

Jessica Chastain em “Os Olhos de Tammy Faye

Outras indicadas

Melhor atriz coadjuvante

Ariana DeBose em “Amor, Sublime Amor

Outras indicadas

Melhor ator

Will Smith em “King Richard: Criando Campeãs

Outros indicados

Melhor ator coadjuvante

Troy Kotsur em “No Ritmo do Coração

Outros indicados

Melhor roteiro adaptado

No Ritmo do Coração Roteiro por Siân Heder

Outros indicados

Melhor roteiro original

Belfast Escrito por Kenneth Branagh

Outros indicados

Melhor animação

Encanto Jared Bush, Byron Howard, Yvett Merino e Clark Spencer

Outros indicados

Melhor filme internacional

Drive My Car Japão

Outros indicados

Melhor documentário

Summer of Soul (…Or, When the Revolution Could Not Be Televised) Ahmir “Questlove” Thompson, Joseph Patel, Robert Fyvolent e David Dinerstein

Outros indicados

  • “Ascension” Jessica Kingdon, Kira Simon-Kennedy e Nathan Truesdell
  • “Attica” Stanley Nelson e Traci A. Curry
  • Fuga Jonas Poher Rasmussen, Monica Hellström, Signe Byrge Sørensen e Charlotte De La Gournerie
  • “Writing with Fire” Rintu Thomas e Sushmit Ghosh

Melhor fotografia

Duna Greig Fraser

Outros indicados

Melhor montagem

Duna Joe Walker

Outros indicados

Melhor som

Duna Mac Ruth, Mark Mangini, Theo Green, Doug Hemphill and Ron Bartlett

Outros indicados

Melhor desenho de produção

Duna Patrice Vermette; Zsuzsanna Sipos

Outros indicados

Melhor figurino

Cruella Jenny Beavan

Outros indicados

Melhor maquiagem e cabelo

Os Olhos de Tammy Faye Linda Dowds, Stephanie Ingram e Justin Raleigh

Outros indicados

  • Um Príncipe em Nova York 2 Mike Marino, Stacey Morris e Carla Farmer
  • Cruella Nadia Stacey, Naomi Donne e Julia Vernon
  • Duna Donald Mowat, Love Larson e Eva von Bahr
  • Casa Gucci Göran Lundström, Anna Carin Lock e Frederic Aspiras

Melhor trilha musical

Duna Hans Zimmer

Outros indicados

Melhor canção

“No Time To Die” from “007 – Sem Tempo Para Morrer“, por Billie Eilish e Finneas O’Connell

Outros indicados

Melhores efeitos visuais

Duna Paul Lambert, Tristan Myles, Brian Connor e Gerd Nefzer

Outros indicados

Melhor curta documentário

“The Queen of Basketball” Ben Proudfoot

Outros indicados

Melhor curta de animação

“The Windshield Wiper” Alberto Mielgo e Leo Sanchez

Outros indicados

  • “Affairs of the Art” Joanna Quinn e Les Mills
  • Bestia Hugo Covarrubias e Tevo Díaz
  • “Boxballet” Anton Dyakov
  • A Sabiá Sabiazinha Dan Ojari e Mikey Please

Melhor curta em live-action

“The Long Goodbye” Aneil Karia e Riz Ahmed

Outros indicados

  • “Ala Kachuu – Take and Run” Maria Brendle e Nadine Lüchinger
  • “The Dress” Tadeusz Łysiak e Maciej Ślesicki
  • “On My Mind” Martin Strange-Hansen e Kim Magnusson
  • “Please Hold” K.D. Dávila e Levin Menekse

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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